sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Expedição Araras Jucurutu Araras

1º dia

Acordamos às 5:00h e, sem nem tomar café da manhã (só um café preto), carregamos as canoas com toda a tralha e zarpamos finalmente da Base Araras às 6:15h. Numa canoa Tito e Valdo (proa) e na outra Jack, Marcelo (proa) e, como passageira, Myrra, artista plástica fluminense, encaixada nas bagagens. Vento moderado.
Primeira parada na enseada em baixo da Itatinga. Pequeno lanche com frutas e biscoitos. Myrra pintou uma ararinha azul numa pedra com a ajuda de Marcelo. Recomeçando a remar em direção a São Rafael constatamos um leve aumento da intensidade do vento.
Cruzamos a foz do rio Caraú e nos dirigimos à ilha da Caixa com uma suave brisa a favor; remamos tranquilamente por algumas horas até entrar na segunda grande enseada que se forma desse lado do rio e ali paramos para almoçar. Enquanto eu preparava o almoço, Myrra foi pintar outra pedra. De repente o céu fechou por uma meia hora e uma chuva rala, mas de gotas grossas, caiu inesperada. Para o almoço preparei carne de sol e feijão verde na panela de pressão, arroz refogado e uma salada mista.
Depois do almoço descansamos um pouco esperando Myrra terminar sua segunda pintura rupestre, um teju; às 3:00h da tarde, quando voltamos a remar reparamos que o vento tinha subido bastante de intensidade e estava formando altas marolas no meio da enseada. Com o vento soprando irregularmente, cavalgamos as ondas e chegamos à outra margem com alívio.
Contornando a costa chegamos ao Campo "E", próximo à entrada do porto de São Rafael, por volta das 5:00h da tarde, por um total diário de aproximadamente 20km percorridos. Organizamos rapidamente o acampamento e assistimos de um lado ao pôr do sol e do outro a lua cheia nascer, tomando um café.
Para o jantar, logo depois, uma macarronada deixou todo mundo pronto pra dormir. Tito deitou dentro da barraca e todos os outros nas redes. Eu ainda pensei em anotar algo no meu caderninho, mas não consegui...

2º dia

Às 5:00h fui acordado pelos sinos de umas vacas curiosas que vieram conhecer-nos de perto e ficaram pastando às margens do acampamento. Preparamos e consumimos um café da manhã reforçado (café, pão, biscoitos, ovos, mortadela, frutas e um resto de feijão verde do dia anterior), enquanto a artista Myrra, que tinha acordado mais cedo, terminava mais uma pintura do seu projeto "Museu da Terra": uma jaguatirica, que, pelas cores vivas e contrastantes, resultou ser uma das gravuras mais bonitas da série pintada nesses dias. Desmontado o acampamento, carregamos toda a tralha nas canoas; por volta das 7:00h zarpamos do Campo "E", tirando das canoas mais umas fotografias da pintura de Myrra.
Vislumbramos de longe a torre da antiga igreja de São Rafael, que se ergue no meio do rio, mas deixamos para a volta vê-la de perto.
Na frente da moderna cidade, edificada na época da construção da barragem que alagou a região, uma ampla e baixa ilha fica no meio do rio, dividindo-o em dois largos canais; cruzamos o canal que dá acesso ao porto principal de São Rafael com um moderado vento de través e contornamos toda a ilha seguindo o curso principal do rio. Cruzamos para outra margem, avistamos o Sítio Mutamba, que já pertence ao município de Jucurutu, e continuamos remando até às 10:00h, quando paramos para fazer um lanche, deixando o tempo a Myrra de efetuar outra pintura rupestre. Dessa vez a artista realizou um bicho esperança, quer dizer, um grilo.
Recomeçando a remar, seguimos em direção à ilha Timbaúba, onde chegamos pouco depois do meio-dia. Logo encontramos dois pescadores, entre os quais Bil, conhecido da gente, que estavam pescando acolá. Como acabavam de chegar, não tinham ainda peixe para vender. À procura de um bom lugar para organizar nosso rancho, costeamos a ilha toda no lado ocidental e aportamos ao pé de um grande rochedo, onde existe uma pequena palhoça usada como abrigo pelos pescadores da região. Com a nossa lona azul ampliamos a área de sombra e organizamos nosso acampamento, denominado Campo "F". Para o almoço preparei carne de sol com batatas na panela de pressão e arroz refogado. Não sobrou nada.
Às 3:15h da tarde enviei Marcelo e Valdo numa canoa à procura de água mineral e gelo numa vila, que avistamos com o binóculo, não muito longe dali. Com Tito fui dar uma caminhada até um alto lajedo de onde acompanhamos a ida e a volta da canoa com os dois jovens. Passamos por uma casa rústica, construída com barro e grandes tijolos maciços, que também deve ser usada como rancho só de vez em quando por alguns pescadores locais. A artista Myrra, não acostumada ao calor nordestino, ficou na sombra, mas não parada: no mesmo rochedo perto do qual assentamos nosso acampamento realizou uma nova pintura para o Museu da Terra: um periquito verde.
Após pouco mais de uma hora, Marcelo e Valdo voltaram comunicando que na vila onde desembarcaram não existe algum comércio: nada de água mineral nem gelo, então; mesmo assim conseguiram pelo menos trazer água potável para utilizar cozinhando. De volta ao acampamento tomamos aquele bom café quente que Marcelo aprendeu a fazer assim mesmo como a gente gosta e nos preparamos para passar a noite. Armamos a barraca de Tito e as nossas redes; Myrra aprontou seu catre por baixo da palhoça. Pontual, às 7:00h da noite, a lua apareceu no céu, iluminando nossas atividades com sua cor prata.
Uma macarronada parecida à do dia anterior acalmou o apetite de todo mundo; depois, como sempre, fomos deitar cedo. Menos cansado que o primeiro dia, não peguei logo no sono e, deitado na rede, fiquei meditando um pouco olhando pra lua.
No segundo dia o grupo remou apenas 13 km, mas Marcelo e Valdo acrescentaram mais uns cinco quilometros à dose diária indo procurar a água e o gelo.

3º dia

Dormir numa ilha no meio do rio é bom demais! Sem barulhos desagrádaveis, sem mosquitos impertinentes...
Eu, que durmo balançando na rede, me sinto em total harmonia com a natureza, num virtual abraço do universo inteiro me botando pra dormir!!! eh eh eh...
Ao amanhecer fui despertado por passarinhos gorjeando. Levantei de bom grado. Myrra e Tito estavam já acordados e ambos, em cima do grande rochedo para ter um visual mais amplo, estavam "participando" do raiar do novo dia. Peguei a câmera fotográfica e o binóculo e também subi na pedra.
A paisagem de cima do penhasco nos permite uma visão de 360º. A cidade de São Rafael ainda aparece lá no fundo. Na margem direita do rio corre até o horizonte a Serra das Pinturas, evocando futuras explorações; na margem esquerda umas altas serras de topos bizarros que ocultam a Serra Branca e, no rumo dessa nossa expedição, a grande serra que esconde à nossa vista a cidade de Jucurutu; esta serra é bem visível desde o Sítio Araras e nós a identificamos facilmente de longe por parecer uma pirâmide. Estamos já na época da estiagem e a vegetação do sertão representa mais uma vez a metamorfose da caatinga que seca, mas não morre. Oásis verdes identificam de longe a presença humana (e de uma bomba elétrica também... eh eh eh!)
Finalmente Marcelo trouxe uma xícara de café forte para a gente sair do sonho e voltar à realidade. Preparamos e consumimos rapidamente um café da manhã substancioso e desmontamos o acampamento.
Tito identificou as primeiras horas do dia como o momento melhor para tirar fotografias e assim a gente tenta estar já em ação cedo.
O dia amanheceu praticamente sem vento e assim ficamos remando como fosse num espelho de água.
A monte da ilha Timbáuba o rio Piranhas é ignoto a todos nos; na nossa última remada Marcelo e eu chegamos até a Timbaúba, passamos umas horas ali feitos cabras, subindo cada penhasco à procura de pinturas rupestres e voltamos.
Após a enchente do inverno passado o rio está tomando conta da paisagem. Largas baías se formam por todo lado e aqui e ali aparece o topo de alguma ilhota. Num ritmo aparentemente preguiçoso fomos remando de um canto para outro, marcando waypoints no gps e tirando fotografias das muitas aves presentes na região: carcarás, garças, mergulhões, galinhas d'água, socós, etcetera.
Por volta das 10:00h da manhã encostamos num rochedo para tirar a foto de um lagarto bonito e acabamos parando por um tempo ali. Myrra desembarcou a caixa das tintas e foi pintar um iguana numa rocha escolhida por afinidade com o bicho que será retratado. Comemos frutas e biscoitos e conversamos um bocadinho com Francisco, pescador que mora ali perto e veio nos conhecer; perguntei sobre o peixe e ele disse que tinha umas pescadas para vender, mas eu, lembrando que a pescada é um peixe chamado de "comida carrregada" na região, não quis arriscar eventuais dores de barriga.
Marcelo tentou pescar numas pedras com suas iscas artificiais, mas sem resultado. Mais uma vez ele pegou só uns peixinhos pequenos, que logo depois soltou livres na água. Valdo ficou vigiando essa pescaria.
Tito e eu esperamos Myrra terminar a sua pintura de molho na beira do rio, lembrando viagens passadas e projetando as futuras.
Quando Myrra completou a pintura, marcamos o waypoint e tiramos as fotos de circunstancia. Depois voltamos às canoas e aos nossos remos.
Cruzamos para a outra margem do rio passando por mais duas ilhotas, sendo os dois rochedos no topo de alguma área maior atualmente submersa.
Paramos na segunda ilhota por que Myrra quis ver a estatua de uma imagem sagrada entre duas pedras no alto do penhasco, colocada por alguém; mas quando Marcelo olhou direto de perto desvendou o mistério: nada de estatua, só um jogo de sombras nas pedras...
A margem do rio é abrupta e foi difícil encontrar um lugar onde parar; mas de repente encontramos ao mesmo tempo um bom lugar onde almoçar e uma grande pedra para Myrra pintar.
Mas, antes de tudo, para tomar um bom banho refrescante!
Inspirada pelos bonitos carcarás que de manhã posaram (quase) pra gente nos galhos secos de umas arvores, Myrra pintou um deles numa larga pedra bem na beirada d'água.
Para o almoço preparei feijão verde e carne de sol na panela de pressão, arroz refogado e uma salada mista. A panela de pressão resultou ser uma peça muito pratica de usar na minha "cozinha de acampamento". Nunca vou deixar de carregar uma durante estas expedições! eh eh eh...
Quando voltamos a remar, por volta das 3:00h, reparei que a gente ia cruzar a foz de um outro afluente do Piranhas, o rio da Garganta, e que o vento estava soprando com vigor.
Com o vento meio atravessado dobramos a ponta e entramos numa paisagem completamente diferente. O seco sertão deixa de repente espaço para a agricultura. Tudo está VERDE! Uma larga e baixa língua de terra divide o rio em dois canais. Entramos no canal maior, no lado da cidade, e continuamos remando.
É preciso prestar muita atenção: as cercas dos terrenos entram na água por dezenas de metros e os tocos submersos são perigosíssimos. A canoa onde viajam Tito e Valdo foi bater de raspão num toco desses e o casco ficou um pouco danificado, mas nada de grave... (com calma depois fiz um curativo nela com silver tape, eh eh eh!).
Durante a estiagem o leito do rio deve reduzir-se muito; o fundo, agora de areia, é bem baixinho e duas vezes ficamos atolados. A cidade e a ponte de Jucurutu no fundo nos levam de volta à civilização. O vento parou de soprar de repente e chegamos por baixo da ponte na maior calmaria.
Com Marcelo escalei a ponte e fui buscar água mineral e gelo no posto de gasolina à beira da estrada. Myrra foi procurar na internet uma imagem da coruja jucurutu, que deu nome aos índios que viviam na região, para sua última pintura durante esta expedição.
Quando voltamos às canoas, com Marcelo fui remando um pouco mais a monte da ponte, mas um grande banco de areia fechou definitivamente o caminho. Voltamos à ponte e com desconcerto entendemos que nos arredores não tinha arvore nenhuma para armar nossas redes.
Saímos de baixo da ponte e remamos até uma rara área não cultivada onde fixamos o Campo "G" já ao crepúscolo. Famintos, não esperamos cozinhar nada e comemos frutas, biscoitos, queijo, salame, pão, castanhas tomando café bem quente.
Armamos a barraca para Tito e estendemos uma lona bem dobrada na areia para nos dormir.
Às 8:00h da noite a lua apareceu no céu e todo mundo estava já dormindo. Sentado numa pequena espreguiçadeira, fiquei observando a lua com o binóculo por um pouco, escutando apenas uma batucada bem longínqua. Depois fui deitar eu também.
Nesse 3º dia de expedição percorremos cerca de 20 quilômetros remando.

4º dia

Às 5:00h acordei e logo despertei Marcelo para ir juntos à feira do domingo e voltar antes do dia esquentar. Myrra, que deve ter começado a pintar no escuro, terminou em breve sua última obra: uma coruja jucurutu, ave sagrada dos indios locais, que assim foram conhecidos pelos conquistadores que acabaram dando o mesmo nome à cidade.
Tomamos rapidamente um café enxuto e por volta das 6:00h deixamos Tito e Valdo à nossa espera e fomos pra feira. Foi nessa hora que marquei bobeira e esqueci de carregar comigo a câmera fotográfica... putz, que fotos boas deixei de tirar !!!
Botamos a canoa em seco por baixo da ponte e guardamos os remos numa fabrica de queijo ali ao lado. No posto de gasolina nos despedimos de Myrra, que vai continuar a sua viagem de ônibus, e caminhamos pela cidade até a feira.
Comprei muita fruta fresca, queijo, peixe, frango e carne de sol. Comprei também uma muda de mangueira, para plantar no terreno da Base IGARUANA no Sítio Araras. Procuramos um pouco, mas afinal conseguimos comprar uns sacos de gelo e começamos a voltar. No meio do caminho, num mercadinho comprei macarrão e café.
Voltamo à canoa e remamos até o campo base. Guardamos os alimentos nas caixas termícas e arrumamos toda a tralha nas canoas. Com a partida de Myrra, passageira da minha canoa por três dias, pudemos distribuir os pesos diferentemente entre as duas embarcações.
Considerada a ponte de Jucurutu ponto final desta expedição, começamos nossa viagem de volta, remando preguiçosamente numa manhã belissima, observando as numerosas aves nas beiradas.


A luz da manhã estava ótima para tirar fotografias, assim aproveitei de uma parada imprevista num banco de areia para descer da canoa e filmar um nutrido grupo de aves dando um showzinho pra gente.
Ao contrario, Tito e Valdo se empolgaram na remada e em breve desapareceram da nossa vista. Tentei chama-los usando até o apito, mas já estavam longe demais.
Os "apressadinhos" perderam de marcar junto com a gente a confluência do paralelo 6ºS com o meridiano 37ºW, bem no meio do rio.
Foi só depois de cruzar de novo a foz do rio afluente que houve a reconjunção do grupo. Fizemos um lanche rapido e fomos procurar um lugar onde arranchar para preparar o almoço. Subimos um pouco pelo rio Garganta e algumas centenas de metros depois do rochedo onde almoçamos no dia anterior, encontramos um recanto ainda melhor para parar. Uma enorme pedra lisa com um lugar privilegiado na sombra para descansar.
Cozinhei o arroz e botei o peixe na caçarola, com temperos e legumes, depois fui tomar um bom banho refrescante. Tito, deitado na pedra como um sniper, desparava clics com suas maquinas fotograficas. Os meninos descansaram na sombra.
Depois do almoço, quente, abondante e gostoso, só conseguimos ficar deitados na sombra falando besteira por um tempão.
Por volta das 3:00h voltamos a remar e subimos o afluente até onde deu. Num lugarzinho encantado, com aquela luz da tarde de tom bem quente, um tucunaré beijou minha mão, pendurada à pêlo d'água. Eh, eh, eh... momentos únicos!
Remamos contra o vento uma hora para procurar um lugar para acampar e não foi fácil encontrar a arvore certa no crepúsculo, mas afinal encontramos um local bom para armar a barraca e as redes. Nesse domingo preguiçoso percorremos apenas 12 quilometros.
Descarregada a tralha, tomamos um café bem quente e botei água para ferver e assim preparar uma energetica macarronada. Tito disse que não estava com tanta fome e que à macarronada preferia algo de mais leve, só pra beliscar e ir dormir logo. Assim arrumei pra ele um pratinho só com umas azeitonas, queijo em cubinhos, filé de tomate, assim mesmo, bem siples. Ficamos beliscando juntos, tomando café e conversando... mas na hora da macarronada ele não resistiu e comeu um pratão!!! E eu também.
Depois disso fui direto pra rede.
(continua...)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

O direito de ser burro


se o jumento escrevesse
talvez fosse respeitado
e talvez lhe defendesse
um jumento advogado
de gravata e paletó
um doutor de jericó
em jumentice formado

Luiz Augusto Bitu set 2008


Arrogar-se o direito de ser burro talvez seja o pior mal que uma pessoa possa fazer a si mesmo. Ainda assim muitas pessoas que conheço preferem essa escolha à uma sana auto-crítica e a consequente evolução.
Em muitos dos casos, passar horas e horas diariamente na frente da TV ajudou bastante no processo de atrofização de algumas das capacidades cerebrais que caracterizam o ser pensante, bombardado por publicidade, direta e subliminal, informação e novelas a toda hora.
Devemos pensar com a nossa cabeça, para não ser escravos de ninguém, e não mentir para si mesmo, para não ver desmoronar tudo ao nosso redor de repente. É preciso ser exigente consigo antes que com os outros e não dar mole nisso. Se deixar que a preguiça ou o costume tomem conta da nossa cabeça, o passo para a vida vegetativa é breve! O que acha que está pensando hoje, foi a tvglobal que disse pra vc ontem à noite... já esqueceu, amigo ???
Não e fácil procurar e achar as respostas dentro de si mesmo, mas é a única solução verdadeira. Arrogar-se o direito de ser burro significa entregar-se cada dia um pouco mais para quem, com todas as armas disponíveis, governa as massas!

domingo, 12 de outubro de 2008

A crisálida do amador


Devido ao successo do curta realizado dois anos atrás, a dupla Walfran Guedes e Josiene Nascimento botou de novo as mãos na massa e realizou uma inédita versão de "A flor do amador", acrescentando quase dois minutos e meio de duração ao vídeo original;


nos mesmos dias, o inquieto e fecundo artista Walfran, em fuga na Pipa, realizou também as filmagens de "A crisálida das sombras", que a amiga Jô finalizou e apresentou à galera...
Vale a pena conferir!

sábado, 11 de outubro de 2008

Invasão de campo!

Enquanto estava ainda tomando café da manhã percebi uma zoada no jardim meio esquisita... fui lá fora ver e logo compreendi que o meu sábado não ia ser tão tranquilo como pensava. A agitação toda dependia de um nutrido grupo de surfistas em tumulto lá em baixo de casa.
Nem deu para aparecer na varanda que o porta-voz do grupo compareceu, informando-me que ia ter uma etapa de um tal circuito¹ de surfe e pediu a permissão para colocar a comissão julgadora no meu jardim.
Contestei que não gosto de ser avisado à última hora, mas o rapaz, já com outros dois surfistas que conheço ao lado, me explicou que se tratava de uma emergência; por alguma razão, que sinceramente não entendi, houve algum problema na praia dos Afogados, original sede da etapa, assim organizadores e surfistas vieram correndo pra minha casa... ou melhor pro Abacateiro, renomado pico de surf da Pipa!!!
Nos acordamos sobre algumas regras básicas de bom comportamento e liberei gramado e banheiro social só pra comissão técnica e o dj. Troquei umas ideias com Tartaruga, um dos organizadores do evento, e com o dj canarino, depois voltei às minhas coisas.
Tinha pensado que iria trabalhar um pouco no sábado, com tanta coisa para organizar ainda pela expedição Jucurutu-Araras, mas quando o amplificador foi ligado e o locutor começou a falar no microfone percebi que ia ser impossível se concentrar com tanto barulho.
Refleti que se ficasse zangado por isso não ia ser bom pra ninguém... assim decidi ser esportivo e por um dia, aliás dois, por que amanhã vai ter a final da etapa, deixar a galera do surfe acabar com a paz e a tranquilidade da ponta do Cabo Verde!!!
Fazer o que?
Com Marina Luna e Marcelo fomos almoçar no Garagem BarCo e alí ficamos até quase o pôr-do-sol. Marina Luna encontrou ali alguns coleguinhas de escola e ficou se divertindo um bocado brincando com eles na praia.
Quando voltamos em casa estava entrando no mar a última bateria de surfistas. Em pouco mais de meia hora todo mundo estava de saida.
Valeu Jack! Obrigadão brother!
Até amanhã galera!!!


¹ Trata-se do 1º Festival de Surf Regional

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Notas de um macaco velho

Jack - Foi tanto o entusiasmo organizando este concurso literário que fiquei empolgado e acabei escrevendo um conto, aliás, ainda estou escrevendo...

Eddy - Olhe...! Você não pode participar deste concurso! Como organizador...

Jack - Já sei, já sei... como na época do torneio de xadrez... só fiquei olhando.

Eddy - Mas você pode publicar seu conto fora do concurso; feito assim... uma coluna literária... sacou?

Jack - Pode crer! Desta gostei... um conto por mês... algo assim; parafraseando Bukowski poderia chama-las, deixa ver... Notas de um macaco velho...

Eddy - Pronto.



UMA NOITE DE CHUVA

O bar estava quase vazio. Era uma quarta feira em meados de maio; tinha acabado de chover e na rua só andava um cachorro molhado; logo que o garçom deu as costas para a entrada, o pulguento foi esconder-se por baixo de um banco de madeira, que estava em um cantinho seco e escuro; perfeito para passar despercebido e longe da chuva. Na mesa redonda, por baixo da luminária de papel colorido que Leon construiu, estavam as irmãs argentinas Celeste e Adelaide, jogando generala aos dados com três outros; uma mulher gorda que soltava uns gritos de euforia quando realizava uma boa pontuação e dois homens, um deles com um sorriso sinistro estampado na cara, que tomava rum com “umas gotinhas de limão”. Mais longe possível do olhar alheio, na mesinha atrás do tronco de coqueiro que sustinha a palhoça naquele canto, trocando beijos incandescentes e aliviando os lábios de tanto calor tomando uma geladinha: um gringo recém-chegado em Pipa e aquela linda criatura morena de olhos verdes que trabalhava na cigarreira do seu Zé do Pé. Os dois tinham acabado de conhecer-se à noite precedente na barraca da baiana, na praia, e estavam agarrados um no outro o tempo inteiro. Quando o sortudo alemão levantou para ir ao banheiro, naquele ritual vai-e-vem de quem toma mais de uma cerveja, passou no meu campo visual e deu para ver no rosto dele a expressão de felizardo que o acontecimento merecia. No meio da sala, por baixo das lâmpadas mais fortes, o Paulista e Lélio estavam jogando xadrez, trocando olhares ferozes na mútua tentativa de aplicar estratégias psicológicas. Atrás do balcão, Eusébio, com eloqüente mímica, descrevia para um italiano de bigodes um golaço de Maradona na época do Nápoles. Xavier e Viola tinham já desmontado a banquinha onde costumavam expor a própria mercadoria; sentados nos bancos no fim do balcão, apesar de estar conversando entre eles, não puderam evitar de olhar para as contidas acrobacias de Eusébio. Eu, de fone de ouvido na cozinha, cuidando da seleção musical, sorria ao ver, através da janelinha que dava na sala, a reação do cachorro ao perceber o cheiro das lingüiças postas na grelha pelo cozinheiro. O focinho do cachorro não conseguia parar, fungando no ar as menores partículas do irresistível cheiro. Pelo resto, o bicho estava imóvel. Até os olhos mantinha fechados.

*************

Recomeçou a chover e a noite transcorria lentamente. Em um momento entraram dois pescadores nativos, Joca e Damião: sentaram a uma mesa e pediram logo uma cerveja e dois espetinhos de coração. Rubinho, o garçom, perguntou: "Tem preferência pela cerveja?" "Pode trazer a mais gelada, meu irmão" replicou o mais alegre dos dois, Damião, ajeitando-se no banquinho para apoiar-se ao tronco de coqueiro e esticar as pernas. O garçom veio até a cozinha para fazer o pedido e anunciou solene: "Dez e meia da noite... com esta chuva, hoje não vem mais ninguém". Vã esperança dele de ir cedo pra cama, como veremos. O Paulista meteu só a cabeça dentro da cozinha para desafiar-me no xadrez. Botei um vídeo dum show ao vivo de B.B.King para assistir na tv e saí da cozinha. Passando pelo bar, aproveitei para tomar uma cachacinha e esquentar o esqueleto numa noite fria como aquela. O Paulista me viu e quis tomar uma dose também; depois fomos sentar para jogar à mesa estratégica, de onde, pelo particular visual amplo, dava pra manter todo o local sob controle. Tinha acabado de sentar, quando um carro chegou e parou bem em frente à entrada do bar; a porta abriu e um cara desceu rapidamente do carro e foi andando em direção ao balcão. Eusébio, que naquela época achava uma ofensa pessoal se alguém estacionasse na frente do bar, lançou-me um olhar interrogativo, como para dizer: “mas quem é este doido?”, porém não falou nada e ficou fitando o recém-chegado. Este, sem nem sentar, pediu uma dose que tomou num gole, depois perguntou pelo banheiro e foi lá. Quando voltou, sentou num banco ao balcão e ficou estudando o cardápio por um pedaço. "Eu quero... quero... um espaguete à bolonhesa" enfim disse, "pode caprichar que hoje só comi um cachorro-quente na rodoviária de Recife, meu irmão..." "Você disse Recife, mas não tem sotaque de pernambucano..." começou Eusébio. "Pois é, meu irmão; sou carioca... mas moro em Fortaleza" replicou o homem prontamente. "Uma Bolonhesa, bem servida" disse Eusébio na janelinha da cozinha.


*************


Meio distraído, à mesa de xadrez, acabei perdendo uma torre e um peão em troca de um cavalo; quando chegamos no final, estava em evidente desvantagem, destinado a sucumbir aos ataques adversários. Mas o Paulista também perdeu a concentração e deixou que eu desse um xeque nele, atacando no mesmo tempo o rei e a única torre presente no tabuleiro. Depois ficou um pouco mais fácil e, sacrificando o meu cavalo no ultimo peão dele, a partida terminou empatada. Parou de chover por uns quinze minutos e logo Eusébio aproveitou para pedir ao dono do carro, que tinha já acabado de jantar fazia um tempo, para estacioná-lo um pouco mais prá lá e deixar livre a passagem. "Desculpe, meu irmão... mas já parou de chover e tirando o seu carro fica mais legal, sabe... para o pessoal entrar e sair..." O carioca olhou para Eusébio.como se não tivesse entendido; ficou por uns segundos com uma cara de idiota, depois fez uma careta e levantou do banco agilmente. Com sete longos passos chegou à porta do carro, subiu, ligou o motor e partiu. Assim que o carro saiu, entrou.Virgilio; foi até a mesinha preferida dele e sentou-se. "Tem picanha, che?" perguntou para Eusébio, "dá-me uma cerveja bem gelada" "Naturalmente tem picanha" respondeu este, "argentina, che... puríssima tapa de quadril." "Para um ou para dois?".indagou, para poder passar o pedido à cozinha, e sem esperar a resposta acrescentou, dando a volta ao balcão e ficando mais perto: "Hoje não esperou a meia-noite para fechar a pizzaria". "Também... só rolou chuva" disse Virgilio, e respondendo: "Picanha para um, com bastante batata, pouco arroz... salada sim", e indicando a garrafa: "Toma-te um copo comigo, se não vai ficar quente". Eusébio deu três passos e, na porta da cozinha, anunciou, escandindo as palavras: "Picanha para um, com bastante batata, pra Virgilio... pouco arroz". "Beleza, brother... Picanha para um, no capricho" confirmou o cozinheiro e já estava abrindo a geladeira dando uma meia-volta num pé só. Voltando nos próprios passos, Eusébio deu de cara com Rocco, um barrilete que acabara de chegar e já estava entrando atrás do balcão para surrupiar um refrigerante. Rocco, amigo de Eusébio, estava hospedado em casa de Leon e trazia um recado: "Leon não vai poder vir" disse logo, "está brigando com a maquina da fumaça da boate e, por enquanto, está apanhando..." concluiu. Eusébio sorriu... e eu também, claro.


*************


Recomeçou a chover. O homem do carro entrou apressado no bar e voltou a sentar-se no mesmo banco onde estava antes. Pediu mais uma caipirinha e caiu de novo na conversa com o italiano de bigode, um tal Franco, que naquela época morava em João Pessoa, mas que estava querendo construir uma casa em Pipa. O show de B.B.King tinha acabado e eu estava de novo trocando discos, mas logo na MTV anunciaram o show de Nirvana acústico e assim comutei naquele canal. Não se tratava de novidade, claro, mas um show desse peso vale a pena ver de novo, como dizem na tv. Paulo e a doida C. desceram correndo a rua da gameleira gritando, abrigando-se da chuva cada um dentro de um grande saco de lixo preto. Logo foram para o balcão onde tomaram uma dose de cachaça dum gole só, “para carburar”. Depois pediram uma cerveja e começaram a conversar. Ironicamente, com a notória eloqüência que o distingue, Paulo começou a falar com Xavier, sentado de um lado, enquanto a doida C., que conhecia o italiano, que sentara do outro lado do balcão, pediu um cigarro para ele e perguntou noticias de não sei quem, dando as costas para o amigo pintor pelo tempo todo, quase. Todavia os dois continuaram tomando da mesma garrafa e quando foi hora de pagar dividiram com equidade.


*************


Era quase uma hora da manha quando a chuva interrompeu de novo; muitos aproveitaram para ir embora. Virgilio levantou-se, como se tivesse lembrado alguma coisa importante, e disse: "Vamo-nos, Enano... hasta mi casa..." Eusébio chamou a minha atenção com um olhar significativo. Quando fomos mais perto, ele comunicou: "Vou até a casa de Virgilio. Se não quedo dormindo na frente da tv, volto de aqui a pouco". "Beleza!", repliquei lacônico, dirigindo-me para a pia do balcão, onde estavam um bocadinho de copos para lavar. Eusébio pegou dois cigarros de uma carteira aberta, que sempre ficava na gaveta do caixa, e foi embora com o chileno. Rocco foi atrás deles, segurando na mão um chori-pan, saboroso sanduíche com lingüiças na grelha e chimichurri, molho picante. O cachorro acordou e foi atrás de Rocco, ou, mais propriamente, do cheiro da lingüiça, na esperança de ganhar um pedaço... pelo menos do pão. A turma dos dados pediu a conta, pagou e foi embora com medo que recomeçasse a chover. Um dos pescadores levantou da mesa, veio até o balcão, pediu a conta, o desconto, pagou e foi embora. O amigo, já pronto para a cama, segui-o como uma sombra. Apaguei a metade das luminárias da sala e o garçom começou a arrumar tudo para fechar. O som ficou bem baixinho para acompanhar este final de expediente. Xavier e a mulher despediram-se e foram embora. Paulo pegou carona com eles e foi-se também. A esta altura da madrugada apareceu Leon. Tentando consertar o aparelho tinha fumado todos os cigarros; à procura de cigarro mesmo foi que ele caminhou até o bar naquela hora. Logo foi para a cozinha buscar um maço novo. A doida C. foi atrás dele, falando qualquer coisa. O carioca pediu a conta, mas na hora de puxar o dinheiro do bolso lembrou de ter deixado a carteira no carro. Levantou do banquinho com um salto e disse: "Volto já." e saiu de novo quase correndo. O italiano bocejou duas vezes, estirando os braços para cima; sacou duas notas de dez do bolso e colocou por baixo do copo vazio no balcão. "O resto fica de credito para a próxima vez" disse, e já se encaminhando: "Boa-noite". Fazendo zapping na tv, Leon encontrou "Blade runner" que estava para começar na sessão corujão. O cozinheiro mexeu um pouco na brasa para reavivá-la e colocou uns bifes para assar, para todo mundo comer alguma coisa antes de ir embora. A menina da cigarreira e o alemão também pediram a conta e abraçados foram embora. O cozinheiro ficou para a ceia. O garçom desligou todas as luzes e deixou acesa só aquela do balcão; enfim foi embora, carregando o saco do lixo até a esquina. Ficamos assistindo ao filme até quase amanhecer. Ainda apareceu o barrilete Rocco, que sentou conosco e comeu um pedaço de carne dura e fria que tinha sobrado... O homem do carro, que foi buscar a carteira para pagar a conta, não voltou àquela noite nem nunca mais. Mas... se ele vacilar e aparecer de novo na Pipa... tenho certeza que Eusébio, que é fisionomista, ainda reconhece-o. Pode crer.

Publiquei este conto pela primeira vez em 2004 no web site www.eca13.org em ocasião do 1º Concurso Literário "Memórias de Pipa", ao qual, como organizador, não pude participar.

*************

sábado, 13 de setembro de 2008

A tradição não morre



Uma pequena introdução: a cyber-shot que comprei no janeiro passado já no junho, durante a reforma da casa à beira-rio, deu pau e ficou parada por um tempo. Não foi culpa da Sony; é que foi também a primeira câmera fotográfica de minha filha Marina Luna, que adorou ingressar nesse mundo mágico!
Liguei pra assistência técnica em Natal e me disseram que ia demorar muito pra consertá-la na garantia; a lista está grande! Pensei em enviar pro Recife ou pro RJ, como me aconselhou Tito, mas enfim decidi simplificar as coisas: comprei no MercadoLivre na web outra cyber-shot igualzinha, só na cor prata no lugar que preta, por 299 reais, usada.
Pena que o sedex foi extraviado ao chegar em Natal... putz!!!
Agora o amigo vendedor está correndo atrás do sedex perdido e eu fiquei de novo precisando de uma máquina fotográfica! Coloquei a "velha" cyber-shot, num momento de desespero, em cima dum potinho contendo sal grosso e alguns "olhos gregos"... e inexplicavelmente recomeçou a funcionar !!! ...acreditem se quiser! ...só por poucos dias, de qualquer jeito. Durante a expedição IGARUANA no rio Caraú, quando pressentiu que ia começar a chover, a câmera deu pau de novo.
Senti muito a falta de uma câmera fotográfica durante estas últimas semanas cheias de acontecimentos e lugares diferentes.
Pois é... esperando possuir fisicamente de novo uma máquina fotográfica, logo que voltei na Pipa aceitei a proposta de Paolo e ontem peguei emprestada a câmera dele por uns dias. Voltando pra casa vi na praia um grupo de pescadores que estavam trabalhando por baixo de um toldo improvisado com a vela do barco posto em seco: tinham já tirado toda a tinta das obras vivas do casco e o estavam calafetando.
Reconheci Tio Paulo, "Bacia" e Régio, o proprietário do barco, e decidi testar logo a câmera de Paolo. Sem expansão de memória, só deu para tirar 42 fotografias. Passei o material bruto para Negusa Negasta que realizou o vídeo publicado no YouTube.

domingo, 7 de setembro de 2008

Expedição Rio Caraú



1º dia
Acordei bem cedinho e revisei todo o equipamento antes da chegada de Marcelo. Ainda fui pro mercadinho comprar um botijão de água mineral e uma sandália nova para substituir aquela que acabara de quebrar. Quando Marcelo finalmente chegou guardamos uma canoa por baixo do imbuzeiro e carregamos a outra com toda nossa tralha. É muito importante nessa hora distribuir bem o peso da carga para garantir um bom equilíbrio da embarcação. Às 10:10h zarpamos enfim de Araras em direção SE; estamos intencionados a subir o rio Caraú, afluente do Piranhas, até onde der.
Às 11:15h chegamos a Itatinga, a pedra branca em tupi, um rochedo que domina a região; subimos até o topo e fixamos o waypoint com o gps no marco do DNOCS. De volta à canoa comemos uns biscoitos e às 12:00h voltamos a remar. Após um baixo e amplo rochedo, que proteje umas pequenas baias, entramos na foz do rio Caraú e cruzamos para outro lado com um pouco de vento contrario. Por volta das 13:00h chegamos à ilha das Cabras, assim batizada pela maciça presença do animal. Na verdade se trata de um promontório que durante a enchente fica isolado. Acendemos uma pequena fogueira e preparamos café quente, que tomamos comendo uns sanduíches de patê de peru e tomate fatiado que preparei na hora. Foi nessa ocasião que reparei ter deixado em cima da geladeira a penca de bananas destinadas à expedição... putz! De rolé na ilha, descobrimos dois lugares diferentes ótimos para tomar banho, numa enseada abrigada um e outro aos pés dum rochedo, ambos com fundo de areia.
Às 14:15h saímos da ilha das Cabras e remando por uma hora em direção E, com um leve vento contrario, chegamos num lugar bonito que, após breve exame, se demonstrou apropriado para acampar, armar as redes e fazer fogueira. Batizado o lugar de Campo Alfa, desembarcamos a tralha toda, limpamos a área que iríamos ocupar com nosso rancho e acendemos o fogo entre umas pedras perfeitas para uma cozinha de campo. Caminhando para conhecer mais o lugar, não encontramos que algumas cabras e não avistamos nenhuma casa nas vizinhanças. O Campo Alfa é perfeito para o acampamento, pois dispõe de amplas áreas bem niveladas onde armar as barracas perto do rancho; existem também uns lugares à beira d’água onde tomar banho em total privacidade. Às 18:00h jantamos fígado acebolado na brasa, feijão verde e macarrão; na caneca café quente. Depois deitamos nas redes e ficamos conversando um bocado antes de dormir. Ao longo da noite foi interessante descobrir que no Campo Alfa não tem mosquitos, pernilongos, etc... beleza!

2º dia
Acordei às 5:15h escutando o barulho da lenha sendo quebrada por Marcelo, mas fiquei mais um pouco deitado na rede. Quinze minutos depois o café estava pronto e o aroma dele me acordou definitivamente. Comemos biscoitos e frutas; depois arrumamos toda a tralha e levamos perto da canoa. Deixamos o Campo Alfa melhor de como o encontramos, pois aproveitamos para levar junto com o nosso um pouco de lixo que encontramos espalhado.
Às 7:00h saímos do Campo Alfa bem devagarzinho, eu remando e Marcelo pescando. Num momento um pequeno tucunaré mordeu a isca, mas foi logo devolvido pro rio. Guardado o material de pesca, testamos nossa velocidade com o gps, dando uma carreirinha e marcando 7 km/h.
O céu hoje amanheceu cinza e o vento começou a soprar cedo. Tudo indica que iremos pegar chuva. Remamos com o vento de contra para atravessado até a ponte da RN 118, aonde chegamos por volta das 8:30h. Ao passar por baixo da ponte conferi com o gps a marcação feita com antecedência no Google Earth. Nos dois lados da ponte estão erguidas as casas do povoado que tem o mesmo nome do rio. Duzentos metros à frente encontramos a velha ponte e para continuar a viagem tivemos que fazer uma portagem; à causa da enchente o nível do rio está tão alto que a velha ponte fica quase completamente submergida. Impossível passar por baixo. Em caso como isto se deve retirar da canoa toda a carga pesada e literalmente passar o obstáculo carregando a embarcação. Nos ajudaram dois pescadores locais, que nos acompanharam até o ponto melhor para fazer a portagem e nos auxiliaram durante a operação. Valeu!
Por causa da enchente, o rio Caraú alagou boa parte da região circunstante; às vezes fica até difícil entender onde esteja o leito do rio. Após ter dado duas largas voltas paramos numa enseada lamacenta e subimos até uma simples carvoaria no meio do mato. Ali tirei as ultimas fotografias desta expedição, porque a câmera quebrada, que há alguns dias tinha voltado a funcionar, parou de novo. Na mesma hora começou também a chover. Às 9:40h primeiro veio uma chuva fininha por uma meia hora. Marcelo ficou pescando um pouco nas pedras e eu fui dar uma caminhada por ali. Quando estiou, fizemos um rápido lanche energético (biscoitos, rapadura, castanha de caju, mel e fruta).
Ao sair dali a chuva recomeçou a cair: uma hora rala, outra mais grossa. Fomos subindo o rio devagar, reduzindo a velocidade perto de cada pedra ou rochedo para Marcelo pescar um bom peixe para comer no jantar. De novo ele pegou um peixe pequeno (outro tucunaré) e o devolveu ao rio.
Às 11:00h, por baixo da chuva, paramos no meio do rio para conversar com um pescador que estava jogando tarrafa de cima de uma pequena jangada; ele disse que de ali deveria ter mais uns três ou quatro quilômetros de rio navegável, antes de se transformar num pântano. Assim continuamos subindo o rio... ora na chuva, ora não... Marcelo jogando a isca em todos os cantos interessantes, mas sem sucesso. À beira dessa banda do rio Caraú, da nascente até a ponte velha, os moradores da região aproveitam da enchente para plantar de tudo. As cercas dos terrenos ficam em parte submergidas, merecendo atenção dobrada para evitar colisões indesejadas. Por causa da chuva não nos deparamos com muita presença humana: além dos poucos pescadores, só avistamos uma lavadeira, ajoelhada numa pedra. Ao contrario avistamos muitas aves e pássaros: garças, socós, mergulhões, etc...
Às 12:15, sendo impossível continuar remando, descemos da canoa e avançamos os últimos cinqüenta metros com a água até as canelas, rebocando nossa embarcação, para conferir que realmente não tivesse como continuar adiante do largo pântano. Com o gps marquei a localização exata, observado por um grupo de grandes garças brancas, que estavam esperando esse dia de chuva passar, cada uma em cima de uma estaca de alguma cerca ali.
Voltamos a remar, mas muito lentamente, saboreando um panorama inesperado, mas não menos belo: uma paisagem bonita num dia de chuva! Após uma meia hora a chuva engrossou e assim, já com fome, paramos por baixo de uma mangueira. Tentamos até acender um fogo para fazer o café, mas sem muita sorte, assim comemos nossos sanduíches bebendo água da chuva... eh eh eh !!! (brincadeira...)
Pouco depois deu nova estiada e voltamos a remar. Um pedacinho de céu rasgou mostrando um pouco de azul. Otimista, troquei a camiseta molhada por uma seca. Dez minutos depois começou a descer uma garoa que nos acompanhou até a ponte velha, onde repetimos a portagem no sentido contrario, dessa vez sem a ajuda de ninguém. Passamos por baixo da ponte e fomos dar a volta de um rochedo solitário perto dali para marcar a posição no gps. Rumamos pro Campo Alfa preguiçosos.
De repente a chuva engrossou e o vento cresceu. Caiu um verdadeiro toró e, não podendo fazer nada de melhor, nós continuamos remando. Com um ritmo de 45 remadas por minuto pegamos uma boa velocidade e chegamos ao Campo Alfa perto das 4:00h. Descarregamos rapidamente toda a tralha e viramos a canoa na areia. Aí eu vi que de manhã Marcelo lavou e deixou de molho a grelha na beirinha; ali onde a esquecemos a reencontramos. Com a lona laranja e uns cabos armamos um toldo entre as arvores para criar uma área seca. Depois demoramos um tempão para conseguir acender o fogo.
Botamos no fogo a água para o café e aquela para os legumes e Marcelo ficou vigiando para evitar que o fogo apagasse. Sentado no balde virado à frente de uma pedra definitivamente perfeita como plano de trabalho, descasquei e cortei em cubinhos batata e cenoura para cozê-las como acompanhamento do delicioso picado de fígado acebolado com cominho que preparei. Aproveito da ocasião para explicar que quando fui fazer a feira no mercado não tinha a carne de sol que queria comprar e foi o balconista que me empurrou esse fígado que comemos nesses dias... eh eh eh !!!
Depois do jantar fomos olhar a lua e as estrelas no céu manifestar uma tendência à melhora climática. Conversamos um pouco e depois fomos deitar nas redes. Marcelo dormiu logo, eu fiquei ainda um tempo lendo à luz do lampião.

3º dia
Sem pressa acordamos por volta das 7:00h e tomamos café com frutas e biscoitos. Arrumamos todo o equipamento e carregamos a canoa. Às 9:30h com toda calma zarpamos do Campo Alfa e ficamos por um tempo na área procurando um atracadouro alternativo ao usado nesses dias, onde tem algumas pedras perigosas. Marcelo aproveitou para fazer mais uma tentativa de pesca, mas sem êxito.
Após uma meia hora apontamos a proa para a ilha das Cabras e encostamos nela, mas sem descer. A chuva do dia anterior é só uma lembrança e o céu está bem azul. Pensei em conhecer melhor uma grande enseada conhecida pelos pescadores como “Três Postes”, do lado esquerdo da foz do rio Caraú, mas acabei aceitando a proposta de Marcelo e fomos até a ilha E, que batizamos assim porque o dono da mansão ali construída se chama Edivaldo ou algo parecido. Com o vento a favor chegamos à ilha em menos de quinze minutos. Aportamos numa praia de areia fina e, após ter cumprimentado o caseiro fomos dar um rolé para conhecer o lugar. Registrei as coordenadas da ilha E no gps e fizemos um rápido lanche com biscoitos e frutas.
De novo na canoa fomos dar a volta inteira dessa ilha que parecem três e Marcelo, na ultima tentativa do dia de pescar, estourou a linha e ficou roxo de raiva quando sua isca artificial foi pro fundo para sempre!
Apontamos para a Itatinga e, quando chegamos a quatrocentos metros de distancia, dobramos para esquerda e entramos em outra grande enseada que ainda não conhecia; muitas carnaubeiras e só três casas, uma bem distante da outra.
Sem rumo certo, ficamos encostando aqui e ali, olhando as aves pescadoras voar bem baixinho sobre o espelho d’água e trocando idéias sobre técnicas de remada e acampamento. Sem nem reparar quase, já estávamos beirando a ilha perto de Araras... Mais umas poucas remadas e chegamos em casa.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Radical evolution: o fúturo é agora!

Não é fácil encontrar um escritor que nos conte da maior mudança dos últimos dez mil anos. Radical evolution é uma visão sugestiva da dramática aceleração das modificações que estão transformando a natureza humana.
Neste livro tem soldados que não dormem e animais controlados por joystick, computadores geridos pelo pensamento e pais que constroem os próprios filhos. Os superpoderes dos heróis dos gibis já existem ou estão sendo desenvolvidos em hospitais, laboratórios ou centros de pesquisas agora mesmo. Enquanto você está lendo estas linhas a evolução humana está numa fase aceleradissima!
Nada de tanto estranho para quem já leu a SF contemporânea, William Gibson, Bruce Sterling e outros, mas a sensação que predomina é assustadora: porque tudo está acontecendo tão rapidamente?
Graças aos progressos das tecnologias GRIN, um acrônimo que está para Genética, Robótica, Informática e Nanotecnologias, estamos modificando a nossa mente, a nossa memória, o nosso metabolismo, a nossa personalidade, as gerações futuras. Joel Garreau nos acompanha junto com os mais importantes pesquisadores e pioneiros da atualidade à descoberta de todos os “melhoramentos” que vão fazer parte da nossa vida quotidiana no arco dos próximos dez anos. E sobretudo, para onde irão nos levar...
No Paraíso, como acham alguns, onde a promessa de tecnologia é a resposta às nossas preces? Ou, como acham outros, no Inferno, onde a corrida desenfreada do progresso comportará a destruição da nossa espécie? Ou numa síntese vitoriosa, na qual a criatividade humana saberá corrigir em positivo todos os bug de sistema? Garreau quer que todos percebamos quanto a tecnologia está avançando mais rapidamente que nossas capacidades de adaptação, e com a ajuda e a capacidade critica dos pensadores e cientistas que estão realizando hoje o que apenas ontem parecia impensável, ele indaga como estes progressos influenciarão cada coisa, do jeito de trabalhar ao jeito de pensar e agir... tudo!
E isso está já acontecendo agora, não vai suceder nos próximos 50 anos!
O fúturo é agora!

*************

Joel Garreau é um futurólogo, estudioso da cultura, dos valores e das mudanças; autor de Edge City: Life on the New Frontier e de The Nine Nations of North America, é colunista do Washington Post e membro da organização de cenario-planning Global Business Network, além de pesquisador universitário em Berkeley, CA.
Acesse o web site dele: www.garreau.com.


sexta-feira, 25 de julho de 2008

Araras - 1ª base operacional IGARUANA

Após muita procura encontrei o lugar certo onde fundar a 1ª base operacional IGARUANA. À beira do rio Piranhas, no município de Itajá/RN, na proximidade da barragem que forma o maior reservatório de água do Estado. Num promontório conhecido como Sitio Araras poucas construções constituem a colônia dos pescadores. Uma pequena baia é o abrigadouro das típicas embarcações dos pescadores locais e de agora em diante também das elegantes canoas IGARUANA. A Base Araras, atualmente em reforma estrutural, será formalmente inaugurada no próximo outubro, em ocasião da primeira expedição IGARUANA aberta ao publico. Fique ligado!

As coordenadas geográficas da Base Araras em Itajá/RN são as seguintes:
S 05º40'471"
W 36º52'353"

sábado, 19 de julho de 2008

Tchau, Dina!

Um miserável filho de puta envenenou Dinamite há algumas semanas na praia de Pipa... Como o gesto covarde foi cometido durante minha ausência, nada pude fazer senão enterrar a cadela querida perto da mãe Diana, morta da mesma infame forma no ano 2000.
Dinamite era um característico exemplar da raça “praiana pipense de pelo comprido”, aprimorada nas ultimas décadas por um seleto grupo de moradores de Pipa, do qual faço parte.
Filha de Diana e Stevie¹, o caolho; irmã de Brutus e Bela, entre muitos; neta de Pitulina² e Pipa; mãe de Cabrita, que agora por segurança veio comigo pro sertão, e de uma outra ruma de cachorros praianos pipenses de pelo comprido.
Salvo raras ocasiões os exemplares desta raça, contudo tenham comida em casa, gostam de beliscar aqui e ali... um pedacinho de carne na Garagem, uma cabeça de camarão na praia, uma banda de coxinha caída no meio da rua, etcetera...
Um costume estúpido e fatal, que pode levar à morte se abocanhar algo no dia e na hora errados, mas os cachorros não conseguem fazer este tipo de raciocínio... quem manda é o olfato.
Mmmh... aquele cheirinho que vem de longe, trazido pela brisa é tentador demais!!!
A maioria dos praianos pipenses de pelo comprido também gosta de acompanhar seus amigos humanos à noite na rua... e com eles vão até na boate!!!
Naturalmente o que mais gostam de fazer é correr em grupo na praia em intermináveis vagabundagens...
Alguns tomam banho de mar.
Dinamite não, não gostava mesmo de tomar banho de mar...
mas me acompanhava sempre nas minhas caminhadas na praia e na mata. Foi uma amiga fiel por oito anos e vou sentir uma grande falta dela. A vida é boa, mas é dura: amamentei Dina e seus irmãos de mamadeira quando Diana morreu improvisamente e outro dia cavei o buraco da sepultura dela.

Quem a matou não vale nada!

*************

¹ Stevie nasceu no Sitio Verde de Jorge Sendon e se deu definitivamente à vagabundagem quando este arrendou a pousada. Fez o par com Diana até a morte dela e depois se mudou para Tibau seguindo a cadela Rebeca da Leni, irmã de Farmácia.
² Pitulina, de Danilo e Vanessa, era toda branca, o quase, como Cabrita, mas de pêlo não muito comprido. Quem passou o gene do pelo comprido à Diana foi o pai, do qual desconheço a identidade.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Tomar um autêntico banho de cuia

A água se conserva no tanque do banheiro das casas de campo a uma temperatura sempre menor que a ambiente, garantindo um verdadeiro banho refrescante. Experimente o prazeroso frescor do popularissimo "banho de cuia", se puder usando um sabonete natural de puro coco...

• Molhe a cabeça e o corpo com algumas cuias de água;

• Apoie a cuia cheia pela metade na borda do tanque e use a água contida nela para molhar o sabonete. Ensaboe e massageie todo o corpo.

• Nunca imirja o sabonete no tanque;

• Quando terminar jogue a água ensaboada contida na cuia no vaso sanitário;

• Enfim enxague abondantemente o corpo servindo-se da cuia e pronto.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bicicleta nova!

Para seu 6º aniversário Marina Luna pediu como presente uma bicicleta nova. Ela quer ir para escola pedalando, como alguns dos seus colegas/amiguinhos... Assim na segunda feira fomos para Goianinha e encontramos a bicicleta certa: uma magrela esportiva e feminina ao mesmo tempo... com bons freios e aros de 20"... um arraso!!! Antes de ir para escola pedalando, Marina Luna deve treinar bastante! É o que irá fazer nas semanas de ferias escolares!!!

domingo, 6 de abril de 2008

Sertão inundado

Aproveitando de um feriado municipal (Dia da Emancipação política de Tibau do Sul) nesta sexta-feira, arrumamos nossas malas e viajamos pro sertão potiguar, com o desejo de conhecer algumas cidades à beira do açude Armando Ribeiro, no vale do Açu; entre muitas escolhi São Rafael como alvo principal deste fim de semana. Saimos de Pipa já com o sol alto e o dia quente; quando chegamos em Goianinha fizemos uma pausa por um lanche tipico (caldo de cana e pastel) e de ônibus fomos pra Natal. Sem nem entrar na cidade, descemos no Cajueiro e lá esperamos outro ônibus. Marina Luna comeu um espetinho de frango e após mais uma hora de espera finalmente chegou o ônibus para Apodi. No começo o ônibus estava lotado e tinha até muitos passageiros em pé. Marina Luna e Sobelysse ficaram num assento e eu num outro pouco distante, depois conseguimos sentar todos juntos. A viagem durou muito e quando, passado Angicos, chegou a hora de descer do ônibus e esperar uma lotação para S. Rafael, estava chovendo forte e começando a anoitecer. Como não sou doido, decidi continuar a viagem até Açu, dormir ali e prosseguir para S. Rafael só na manhã seguinte... Ao passar a ponte no rio Açu deu para perceber o tamanho da inundação!!!

Chegamos em Açu (ou Assu, não sei dizer qual seja a forma mais apropriada, pois as duas são usadas) com a chuva batendo forte no telhado da estação rodoviária. Esperamos a chuva passar e rapidamente pegamos um quarto numa pousada ali pertinho, fizemos umas compras no mercadinho e enfim fomos jantar do outro lado da rua. O jantar não foi nada de especial mas, dada a fome, não sobrou nada. Marina Luna também comeu tudo caladinha. Ao voltar na pousada deitamos na cama e assistimos cartoon network até a meianoite. No dia depois acordamos cedo, tomamos café da manhã e fomos de ônibus até São Rafael. Conhecemos a cidade e almoçamos no único restaurante da cidade... isca de peixe, carne de sol, puré, etcetera e tal. Marina Luna ficou brincando um bocadinho com uma menina na piscina. Depois começou a chover e caiu um verdadeiro toró!!! Sobelysse ficou assustadissima com os trovões. A chuva continuou a cair a tarde inteira e nós ficamos na pousada: Marina Luna brincou muito com o neto de dona Maria, proprietaria da pousada, Sobelysse assistiu TV e eu fiquei lendo uns contos de Guimarães Rosa das "Primeiras histórias"... À noite jantamos na pizzaria local e fomos deitar cedo. No domingo o sol voltou a brilhar; de carona num caminhão fomos até a BR e voltamos para Natal de lotação e de ali para Pipa de ônibus.

domingo, 30 de março de 2008

Pipa - Uma janela para o mundo

Visões ecológicas para um planeta melhor - Os artistas de Praia da Pipa expressam seus anseios sobre os dilemas que enfrentamos, tornando as paredes das ladeiras um mosaico de cores e fazendo do mural um veiculo cultural.
Acompanhe neste documentário as etapas do projeto e assista às declarações de alguns dos artistas que participaram.

-----------------------
ECA13 2008 - CopyLeft
www.eca13.org
-----------------------

Deste documentário existe uma versão em alta qualidade no formato 640x480 de aprox. 80MB. Os interessados podem entrar em contato conosco pelo email@eca13.org

quarta-feira, 12 de março de 2008

Escolhi a canoa!


Finalmente me decidi! Escolhi a canoa com a qual vou organizar minhas expedições. Fiquei um tempão na duvida entre o kayak inflável mod. duck, a tradicional canoa canadense e uma canoa de 5 metros mod. cherokee produzida pela Canoa&Cia de Londrina, PR. Foi esta última que decidi adotar e assim adquiri duas unidades dela para o primeiro teste de expedição em rios mansos e lagoas do Nordeste.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Vida real

Ontem fui buscar minha filha na escola por um caminho diferente. Na rua principal dobrei à direita na rua da Graúna; onde o calçamento termina deparei com uma cena que achei cômica: dois burrinhos que andam soltos pela cidade estavam procurando comida no lixo da esquina, rasgando as sacolas feitos cachorros. Achei tão engraçados os dois jumentos vagabundos que acabei tirando umas fotografias deles...

De repente percebi a presença de alguém ao meu lado, aparecido do nada. Um rapaz que não conheço; que só vi uma vez na lotação vindo de Goianinha, depois lembrei. Ele abriu um largo sorriso pra mim e disse: “tenho da boa!”; eu olhei assim meio perplexo e ele acrescentou: “pedra!”, abrindo um sorriso ainda maior, definitivamente sinistro. Aí já fiquei com desgosto e, sem dizer nada, continuei pelo meu caminho, entre o atônito e o encabulado.

*************

Hoje à tarde, enquanto o meu amigo J. foi trabalhar na escola, desconhecidos entraram na casa dele e carregaram o computador, o leitor mp3 e um dinheirinho apoiado em cima da mesa. Duas horas de ausência de casa que resultaram fatais; duas horas dedicadas à educação da nova geração pipense.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Talassoterapia nas piscinas naturais de Praia da Pipa

A água do mar sempre foi considerada a fonte da vida; foi de fato no mar que se desenvolveram os primeiros organismos no nosso planeta. Natural, então, que do mar (em grego Thalassa) médicos e cientistas tragam remédios e soluções eficazes para mais de uma importante patologia. O mar é fonte de vida e reserva infinita de riqueza e benefícios; o 80% da flora marinha ainda não foi estudado, mas sabemos com certeza que os aerossóis naturais, os iônios negativos, os oligo-elementos, como o magnésio e o potássio, formam o melhor cocktail para nossa saúde. Todo mundo sabe que a simples permanência em ambiente marinho revigora e fortifica nosso organismo. Poderíamos definir o mar a melhor água mineral, para conter em si a quase totalidade dos elementos presentes na natureza. A água de mar tem uma tríplice ação benéfica: química, através dos poros da pele que absorvem os elementos marinhos; física, com o efeito de sustento e a ação de massagem; térmica, através de uma melhor circulação sanguínea.

A constatação de tantos benefícios levou os médicos pesquisadores a utilizá-los para fins terapêuticos: nasce então a talassoterapia, que associa as riquezas presentes nos elementos naturais, água marina, ar, sol, às técnicas que nós permitem aproveitar de tudo isso do jeito melhor. A talassoterapia contrasta muitas doenças, inclusive a tuberculose, os distúrbios reumáticos, varias formas de alergias, e em geral contribui com eficiência em revigorar nosso sistema de imunidade; todo o organismo recebe um efeito relaxante e equilibrante.

As piscinas naturais que se formam durante a baixa maré na Praia da Pipa são ideais para usufruir as vantagens da talassoterapia. O efeito combinado de sol, iodo e água de mar gera grandes benefícios e ótimos resultados. Uma cura toda natural que ajuda afastar o stress, combater a celulite e recompor o correto funcionamento das células maltratadas pelos nossos terríveis horários, profissões e estilos metropolitanos. Os poros da pele, a contato com a água, se dilatam e permitem assim a passagem dos preciosos oligo-elementos que devagar chegam no sistema sanguíneo, corrigindo os desequilíbrios. As algas de mar, com o reconhecido poder antibiótico, antibacteriano e antiviral, fazem o resto. Nada de resfriado, gripe o dor de barriga.

Já no começo do século passado o biologista francês René Quinton, foi o primeiro em encontrar uma analogia entre água de mar e plasma sanguíneo, ponto de força desta cura. A água de mar è de fato particularmente rica em sais minerais como iodo, potássio, magnésio, pequeníssimas quantidades de metais como manganês, zinco e cromo que desenvolvem um papel essencial no bom funcionamento das células. Com a talassoterapia temos a disposição à cura total do corpo, seja nos campos da estética que da medicina: massagens, banhos de água quente (até 38° C, mas a temperatura de 34° C é a ideal para o absorvimento dos oligo-elementos), óleos de mar, argilas enriquecidas com algas, hidromassagem natural e muito mais. Os pesquisadores e estudiosos da talassoterapia alegam que a baleia conseguiu sobreviver ao dinossauro graças á água, seu ambiente de vida.

Talassoterapia: uma ciência que se propõe de utilizar a água de mar e todos os seus derivados para o bem-estar e a saúde; os resultados são surpreendentes.

Platô declarava que "o mar lava todo o mal do homem". Hipocrates aconselhava curas hidroterápicas, a Bíblia e o Evangelho citam a água como meio para a purificação do corpo e da mente; Egípcios, Gregos, Romanos descobriram e aproveitaram as virtudes da água do mar para obter benefícios terapêuticos, preventivos e curativos.

Você vem pra Praia da Pipa por diversão? Procurando relax? Por causa da beleza natural do lugar? Se quiser, pode aproveitar da sua estadia aqui para curar-se com a talassoterapia, antigo método benéfico que utiliza os enormes recursos do ambiente marino: a água rica em sais minerais, o ar, enriquecido pelas partículas de água em suspensão, as algas com propriedades antibacterianas e anticoagulantes; a areia, útil para os reumatismos.

Os banhos constituem a base da talassoterapia. A imersão do corpo na água permite de fato melhorar as capacidades do sistema respiratório, favorecendo a circulação e a eliminação das toxinas. Na água temos a sensação de ser mais leve, assim é mais fácil movimentar-se por que os músculos podem trabalhar sem o peso do corpo. Imergir o corpo nas piscinas naturais de Praia da Pipa exercita varias estimulações: uma de tipo térmico, facilitando a circulação e a oxigenação dos tecidos; uma de tipo químico, graças ao absorvimento dos elementos diluídos na água; uma idro-dinamica, reduzindo a fatiga muscular nos movimentos.

Não podemos esquecer agora de um seguro complemento à balneoterapia: o tratamento com as algas: frescas ou desidratadas, com uma simples aplicação local, melhoram e consolidam o aporto oligomineral. Muito indicada é também a areia fine da Pipa, ao justo grau de exposição solar: basta um sutil véu aplicado por 10/20 minutos para aportar significativos benefícios.

A talassoterapia, enfim, é o conjunto de estímulos e aportes para o nosso organismo que vem do complexo e vital clima marino.Ar puro e sol juntos com o poder da água marina representam o melhor remédio na cura de específicos distúrbios e fonte de vigor para o organismo, livre e limpo das mil impurezas que quotidianamente deve absorver. O clima marino tonifica e revitaliza todo o organismo, com resultados benéficos para todos, homem, mulher, idoso, criança.

Provavelmente, muitos dos freqüentadores da belíssima Praia de Pipa não percebem racionalmente das extraordinárias propriedades terapêuticas deste banho. Mesmo assim, milhares de pessoas, quase em resposta a um chamado escrito no código genético, mergulham com alegria neste liquido primordial que é o mar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Quarta-feira de Cinzas na Praia da Pipa - 2008

As fotografias de Tito Rosemberg receberam tratamento "choque" e ganharam também uma trilha sonora... Um vídeo breve ( 1 minuto e 38 segundos), fácil de baixar para os internautas de banda lenta !!!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Carnaval na Praia da Pipa 2008

Quarta-feira de Cinzas - 6 de fevereiro de 2008 - Desfile dos blocos "Yahoo", "Priquiteiras" e "Quengas". A qualidade de vídeo não é excelente, pois a cobertura do evento não estava programada; filmei os blocos com uma câmera fotográfica da terraça do restaurante Papillon.
A maquina fotográfica estava configurada para gravar imagens com qualidade standard e não alta. Ao contrario a captura do audio resultou bastante boa. Sugiro portanto assistir o vídeo sem ampliar o tamanho da tela.
NÃO deixem de assistir o vídeo da outra produção ECA13 relativa ao Carnaval 2008: "Quarta feira de Cinzas na Pipa"... Nesse vídeo as fotografias de Tito Rosemberg retratam a "galera" da Pipa pulando o carnaval!!!

-----------------------
www. eca13.org
-----------------------

Para os interessados existe uma versão de 175MB com qualidade vídeo quase boa e tamanho 640x480 - email@eca13.org

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fim-de-semana à beira-rio


Agora que Marina Luna começou a estudar é preciso aproveitar do fim-de-semana para organizar alguma atividade diferente e prazerosa. Para este primeiro weekend de estudante propus para Marina Luna ir ao Sitio Verde de Jorge Sendon em Vila Flor, à beira do rio Catú. Para fazer uma primeiríssima experiência de acampamento, peguei emprestada de Marisa uma barraca que ela comprou para os filhos, mas que foi muito pouco usada. Sábado às 9:30h da manhã nos encontramos com Jorge atrás da padaria e juntos fomos pro sitio. Desde a ultima vez que a gente tinha ido ali, em ocasião do aniversario de Jorge, eles se mudaram pra lá e agora estão morando na primeira construção do Sitio Verde em Vila Flora, uma grande cabana de troncos e palhas de carnaúba. Em baixo estão a cozinha e a sala de estar ao ar livre, na varanda, o quarto dos meninos e um banheiro. No andar de cima está o aposento de Jorge Sendon e Genilda.
Enzo e Juan, os meninos que moram ali, são coleguinhas de Marina Luna no Espaço Maturí. Quando chegamos, eles estavam brincando no rio e assim tive a tranqüilidade de montar a barraca sem muita criança por perto. Para o almoço Jorge Sendon preparou um leitãozinho assado; estão presentes no sitio também dois argentinos: um sobrinho de Sendon e um gordo amigo dele.
Testei o sinal Internet na varanda e está ótimo.
Depois do almoço os meninos ficaram brincando na barraca e os adultos continuaram à mesa conversando. Por volta das 3:00h da tarde descemos ao rio e tomamos banho brincando até quase escurecer. Enzo maravilhou todo mundo demonstrando-se ótimo remador, dominando o caiaque na correnteza do riacho sem problemas. Dois meninos que moram pertinho de aí, um pouco maiores que a turminha, exibiram-se pulando na água do alto de uma arvore.
À noite Jorge foi levar o sobrinho e o amigo dele para Pipa; quando ele voltou, tomamos café com pão e frutas, depois as crianças foram brincar no quarto e a gente trocou idéias por um pedaço. Quando Jorge decidiu abrir uma garrafa de vinho tinto, eu parti a cabeça do leitão e comemos o cérebro e a língua, verdadeiras guloseimas. Deitei com Marina Luna na rede da varanda e comecei a ler um livro para ela, mas, cansada de tanta atividade, a menina dormiu na hora mesmo que se acomodou no meu colo. Jorge e Genilda se retiraram no próprio quarto e eu fiquei lendo um pouco na rede antes de adormecer.
Durante a madrugada caiu uma breve chuva, mas o gato do mato, cuja possível aparição Jorge tinha me anunciado, não deu a cara.
Acordei bem cedinho, com o sol raiando no horizonte. Fiquei um tempinho curtindo esse momento ainda deitado na rede, depois levantei e dei uma caminhada pela propriedade. Quando voltei estavam já todos acordados, nos preparativos do café da manhã.
Tomado o café da manhã, descemos ao rio e fomos dar uma volta de caiaque: em um Genilda com Enzo e no outro eu com Marina Luna. Aproveitando do nível mais alto da água, por conta da maré grande destes dias, remamos até nunca eu tinha chegado antes; passamos a bifurcação do canal que liga o rio Catú ao Galhardo e continuamos pra frente. Saímos da mata e entramos numa ampla área alagada caracterizada pela presença de um capim baixo e bem verdinho. O riacho nesse trato é fino e sinuoso; após algumas centenas de metros o capim fecha o caminho e só nos restou voltar para trás. O silencio é quebrado só pelo canto dos pássaros: nesse quieto sossego Marina Luna deslizou entre minhas pernas e tirou um cochilo rápido. Quando a tia deixou Enzo remar um pouco, Marina Luna também quis treinar a remada.
Quando chegamos de volta ao sitio os dois meninos ficaram aprimorando a técnica por um bocadinho enquanto eu vigiava de molho no rio. Jorge desceu de carro e examinamos a estrutura em construção da cobertura do restaurante. Depois guardamos os caiaques e subimos a casa para almoçar.
Às 3:00h para entreter os meninos fomos dar uma volta de trenzinho até Vila Flor. Na volta atolamos na areia fofa e para tirar o carro dali foi um sufoco, mas afinal deu tudo certo. Os meninos se divertiram que só.
Ao voltar pro sitio desmontei a barraca e arrumei nossas bagagens para voltar pra casa em tempo útil para a janta. Jorge Sendon nos levou de volta para Pipa aonde chegamos pouco depois das 6:00h da noite. Depois de tanta carne assada, no jantar preparei um bom prato de espaguete para matar a saudade.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

1º dia de escola

A partir de hoje Marina Luna é oficialmente uma estudante!

Uma pequena viagem - parte 5

Sábado é dia de feira em Santa Luzia e todas as semanas Zé Domingos vai pra rua fazer as compras. Quando estamos na fazenda nós vamos também. Desta vez fomos procurar um par de botas novas para Marina Luna. Ela ganhou um par de botas usadas na época do Brechó da Sosó na pousada Cabo Verde, no ano passado, mas já estão acabadas e não dá mais para usá-las. Nas lojas de sapatos de Santa Luzia descobrimos que as botinhas de vaqueiro só estão à venda na época do S. João, assim rodamos toda a cidade sem resultados. Conseguimos pelo menos encontrar um fotografo para fazer as fotografias para levar na escola. Já no caminho de volta para a fazenda, Zé Domingos parou o carro na frente do hospital para Dona Anair medir a pressão; eu vi mais uma loja de sapatos no outro lado da rua e fomos correndo: ali compramos umas bonitas botinhas de couro preto... wow! Marina Luna gostou demais e não quer tirar dos pés! Quando voltamos na fazenda terminei de arrumar as nossas bolsas para estar prontos quando Beto chegar, para ir de carona com ele até JP e dali para Pipa de ônibus. Às 11:30 almoçamos e de Beto nenhuma noticia. Zé Domingos me chamou para jogar uma partida com ele e Alex enquanto Marina Luna ficou brincando com Dominguinhos de corre-corre com as botas novas. De repente Beto chegou, almoçou e depois viajamos. Nos despedimos de Zé Domingos e Dona Anair com a promessa de voltar logo que poder. Na viagem para JP Beto foi parando em todo canto para lanchar, tomar um café, um conhaque com mel, uma águinha, abastecer o carro, etc. assim chegamos na capital paraibana só de sete horas, tarde demais para pegar um ônibus pra Pipa. Pedi então para Beto nos deixar na casa da vovó Lourdes de onde avisamos Sobelysse que não ia dar para chegar lá no mesmo dia. Após tomar um banho, Marina Luna foi com a avó no parquinho do Habib’s e voltaram só mais tarde trazendo uma pizza. Eu armei uma rede e fiquei lendo um pouquinho. Quando elas chegaram jantamos juntos e fomos deitar. Marina Luna dormiu logo; eu ainda fiquei um pouco jogando xadrez na web, mas deitei em seguida para acordar cedo. Às 6:00h da manhã estava já acordado para organizar tudo e conseguir pegar os ônibus das nove horas sem stress. Às 7:00h acordei Marina Luna e depois do leitinho tomamos banho e nos arrumamos. Às 8:00h em ponto, prontos para partir, fomos detidos pela vovó Lourdes que disse que ia pedir para Crisley levar-nos para a rodoviária. Ficamos assim perdendo um tempaço; Crisley chegou atrasadíssimo e quando alcançamos a estação rodoviária o ônibus tinha já saído. Esperamos um bocadinho ali na frente e acabamos indo para Goianinha de lotação. Domingo, 20 de janeiro chegamos enfim em casa na hora do almoço e Sobelysse preparou pra gente um pratão de espaguete.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma pequena viagem - parte 4

As atividades na fazenda de Zé Domingos começam muito cedo; por volta das 5:00h todo mundo levanta da cama e em breve continuar a dormir vira um verdadeiro desafio, pois o barulho é grande. Às vezes fico mais um pouco deitado na rede escutando [querendo ou não querendo] no rádio as noticias locais em forma de cantoria: programa muito simpático... às 5:30h na FM Santa Luzia. Mas o que gosto mesmo de fazer é levantar-me e, sem falar muito com ninguém, sair para dar uma caminhada na região. Já tenho um itinerário preferido, mas de vez em quando opto por um passeio diferente. Marina Luna, ao contrario de mim, não se importa muito com o barulho; toma um leitinho ainda no sono e continua dormindo por um pedaço. Caminhar por ruas e trilhas poeirentas escutando o canto dos passarinhos é bom demais. Os pensamentos fluem leves na cabeça e a harmonia é total. A maioria dos encontros que faço durante estas caminhadas é com animais: vacas, cabras, burrinhos... muitos pássaros e outras aves! Hoje fotografei umas corujas muito bonitas: duas menores da espécie burraqueira e uma grande suindara, bastante rara na região.

Quando Marina Luna enfim se levanta, corre nos galinheiros à procura de ovos recém postos. Com o maior cuidado leva os ovos ainda quentes na despensa toda orgulhosa e contente; a vovó Anair então frita na manteiga um ovinho desses para ela comer com pão. Se não tem nada mais importante e urgente para fazer, Zé Domingos passa a manhã e a tarde jogando baralho, num interminável torneio de buraco, apostando dois reais à partida para apimentar um pouco o jogo. Às vezes eu mesmo sou convidado a jogar e fico envolvido um pedaço à mesa; mas sempre que posso passar a bola pra alguém, eu passo, pois não me amarro muito no baralho. Nestes dias consegui pela primeira vez ganhar duas partidas... uma foi ontem e hoje a segunda. Não é nada fácil ganhar uma partida deles, por que Zé Domingos e seus parceiros jogam todos os dias e estão treinadissimos; eu não tenho muita malicia e não consigo lembrar-me todos os descartes... Às 11:30h Dona Anair chama todo mundo para almoçar: trabalhadores, jogadores, parentes e amigos. Na mesa a comida tipica regional preparada pela dona da casa: fejão verde ou mulatinho com costelas de boi, arroz de leite, carne de sol assada, galinha na panela, jerimum, batata doce, farofa de cuscus, suco de fruta de acerola, goiaba, manga, etc. conforme a disponibilidade da despensa; Marina Luna demora sempre um pouco para acostumar-se aos temperos diferentes, mas adora a carne de sol assada.
Nas horas mais quentes do dia é indispensável ficar na sombra, pois o calor é grande. Todo mundo só fala da chuva, que passa longe, mas não chega ainda. Só na quinta feira choveu um pouco à tarde e faltou até a energia elétrica; como demorou em voltar, ao escurecer a fazenda pareceu voltar atrás no tempo, quando só tinha candeeiros e velas. Por volta das 3:00h da tarde já se pode sair para dar uma caminhada ou ir ao pomar coletar as frutas maduras: acerola, goiaba, manga, limão, romã, pinha, banana, laranja... Mas o lugar preferido de Marina Luna à tarde é o curral: outro dia fizemos amizade com uma bezerra marrom que adorou as cascas de banana que a gente deu pra ela. A bezerra pegava e engolia a comida num gesto só, enroscando a linguona. Marina gosta de subir no recinto da vacina e brincar trepada em cima das tabuas mais altas. É dali que a gente assiste o pôr-do-sol; a bola incandescente desaparece atrás das serras longínquas e todos os animais se preparam para descansar. Às 6:00h dona Anair chama de novo todo mundo ao redor da mesa para a janta. O jantar preferido de Zé Domingos é uma tigela de leite com batata doce amassada e pedacinhos de carne de sol assada. Mas na mesa, assim como na hora do almoço, a escolha é variada. Assim como começam cedo, as atividades na fazenda também terminam cedo: por volta das sete horas Zé Domingos arma a rede e assiste o jornal na TV já deitado. Antes que o noticiário termine, ele está já dormindo. Dona Anair ainda fica um pouco acordada para assistir a novela. Marina Luna na rede lê seu gibi tomando leitinho. Quando todos dormir, eu costumo ficar ainda um pouco sentado fora de casa, olhando as estrelas e a lua. O vale do Riacho da Serra fica em silencio até o primeiro galo cantar.
Hoje foi o 77º aniversário de nonna Giovanna, à qual ligamos para os parabéns.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Uma pequena viagem - parte 3

Segunda feira de manhã acordei bem-disposto: depois ter tomado umas xícaras de café e refletido um pouco sobre os mistérios do universo, decidi que tinha chegado a hora de lavar a roupa suja. Como estamos viajando com bagagem reduzida, após alguns dias a roupa limpa faz logo falta... também por que sempre tem aquela camiseta que a pessoa gostaria de usar todos os dias assim como a calça no fundo da mala que acaba não usando nunca. Em auxilio à minha boa vontade foi muito útil a presença de um tanquinho na pousada, que ajuda muito psicologicamente. Contudo a peça fundamental nesse caso è uma escova para tirar as manchas mais resistentes. Marina Luna e o sempre presente Samuel ficaram assim brincando na área enquanto eu esfregara a roupa. Conversando com Angelina fiz a proposta de comprar uns litros de gasolina para dar uma volta no açude com o barquinho a motor deles; ela aceitou na hora e logo foi comprar o combustível. Na vila de Gargalheiras não tem lojas ou comércios: outro dia comprei os sorvetes para as crianças na casa de uma senhora e Angelina e Christian compram a gasolina de um pescador que sempre tem muita estocada. Para qualquer compra deve-se ir até Acari e, assim como no Riacho da Serra, no inteiro povoado só existe um telefone público, que nem sempre funciona; mas que funcionou perfeitamente sábado, quando liguei pra nonna Giovanna. Depois ter consumido um lanche reforçado descemos até o açude, aprontamos o barquinho e zarpamos para conhecer todo o açude. A primeira parada foi na fazendinha de Ferreira, que ele transformou em pousada batizando-a “Pé-de-Serra”. O 1º premio do torneio de xadrez do ano passado foi um fim de semana nessa pousada. Como Ferreira não estava ali só ficamos um pouquinho e logo fomos embora. Continuando a nossa travessia num cenário natural encantado, reconhecido como uma das sete maravilhas do RN, chegamos à vila de Bulhões, bem no fundo do açude. Caminhando na lama preta fomos conhecer o povoado, apesar do receio de Angelina em deixar o barco sem custodia. A vila de Bulhões é constituída de mais ou menos umas vinte casas de pescadores, um mercadinho e dois botequins, um com uma mesa de sinuca. Na casa de uma amiga de Angelina fomos presenteados com muitas mangas, seja da espada que da rosa. Muitos pescadores foram perguntar-nos se o barco a motor fosse nosso, pois estavam preocupados com uma fiscalização do Ibama; tranqüilizados fizeram largos sorrisos. Na volta passamos perto da “prainha” para comer alguma coisa num barzinho na beira, mas estavam fechados os dois. Nos rochedos que ficam no meio do açude avistamos um montão de garças brancas. Passamos bem perto do marco da profundidade do açude e voltamos para o porto de partida, onde atracamos por volta das 5:00h da tarde. Quando perguntei para Marina Luna se gostou do passeio, ela foi lapidária: “Foi uma aventura e tanto! Gostei muito!”. Tomamos aquele banho perfumado e relaxante na nossa banheira e depois fomos dar uma caminhada até a vila, só pra esticar as pernas. Na volta preparei a arrumação noturna na palhoça [rede para Marina Luna e notebook conectado para mim], deixei Malu brincando um pouco com o “jogo do cachorrinho” e fui preparar nosso jantar: espaguete ao molho gostosinho. Marina Luna jantou, tomou o leitinho e dormiu numa seqüência muito rápida. Por volta da meia-noite fiz a mudança e nos retiramos no nosso quarto; Marina Luna fica no meio da cama de casal enquanto eu prefiro dormir [e ler um pouco antes] na rede. Terça feira acordamos com a idéia de mover-nos e ir pra outro canto: como os dias são contados decidimos ir diretamente para a fazenda de Zé Domingos. De manhã fui com Christian para Acari à caça do mapa do açude, sobre o qual estudar os itinerários de trilhas e remadas. Não conseguimos na prefeitura nem no DNOCS. Descendo do buggy bati na armação do pára-brisa e quebrei meus óculos. No mercadinho comprei fruta, biscoitos e iogurtes para os lanches e os ingredientes para preparar uma macarronada de despedida na pousada. Depois do almoço deixei Marina Luna brincando com Samuel por baixo da palhoça e fui arrumar as malas. Cinco minutos depois chegou minha filhota correndo e gritando: “papai, caiu meu dente!”. Abracei a pequena, perguntei se tinha se machucado e, quando respondeu que não, a tranqüilizei: “não se preocupe que vai nascer um dente novo no lugar desse que caiu”. Fomos no lugar do acidente e achei o dentinho num canto. Guardei-o numa garrafinha com água e sal, pois a mãe de Samuel disse que talvez um dentista pudesse colocá-lo de volta. Nos despedimos de Angelina e Christian e de moto-taxi fomos pra Acari. Na praça principal perguntei sobre ônibus ou lotações na direção certa, mas como já sabia não existe transporte público entre o seridó potiguar e o paraibano. Pechinchando por um quarto de hora consegui um preçinho camarada para ir até o Riacho da Serra de táxi e assim fomos. Marina Luna comeu uva escutando musica no player digital que ganhou de Tito Rosemberg e depois cochilou uma meia-hora. Chegamos na fazenda de Zé Domingos antes do anoitecer, quase na hora do jantar. Fomos destinados ao quarto da frente, que atualmente de dia serve como sala de jogo para o “buraco” de Zé Domingos. À noite tentei avisar Sobelysse da nossa chegada no sitio, mas não consegui comunicar-me com ela.