Segunda feira de manhã acordei bem-disposto: depois ter tomado umas xícaras de café e refletido um pouco sobre os mistérios do universo, decidi que tinha chegado a hora de lavar a roupa suja. Como estamos viajando com bagagem reduzida, após alguns dias a roupa limpa faz logo falta... também por que sempre tem aquela camiseta que a pessoa gostaria de usar todos os dias assim como a calça no fundo da mala que acaba não usando nunca. Em auxilio à minha boa vontade foi muito útil a presença de um tanquinho na pousada, que ajuda muito psicologicamente. Contudo a peça fundamental nesse caso è uma escova para tirar as manchas mais resistentes.
Marina Luna e o sempre presente Samuel ficaram assim brincando na área enquanto eu esfregara a roupa. Conversando com Angelina fiz a proposta de comprar uns litros de gasolina para dar uma volta no açude com o barquinho a motor deles; ela aceitou na hora e logo foi comprar o combustível. Na vila de Gargalheiras não tem lojas ou comércios: outro dia comprei os sorvetes para as crianças na casa de uma senhora e Angelina e Christian compram a gasolina de um pescador que sempre tem muita estocada. Para qualquer compra deve-se ir até Acari e, assim como no Riacho da Serra, no inteiro povoado só existe um telefone público, que nem sempre funciona; mas que funcionou perfeitamente sábado, quando liguei pra nonna Giovanna.
Depois ter consumido um lanche reforçado descemos até o açude, aprontamos o barquinho e zarpamos para conhecer todo o açude. A primeira parada foi na fazendinha de Ferreira, que ele transformou em pousada batizando-a “Pé-de-Serra”. O 1º premio do torneio de xadrez do ano passado foi um fim de semana nessa pousada. Como Ferreira não estava ali só ficamos um pouquinho e logo fomos embora. Continuando a nossa travessia num cenário natural encantado, reconhecido como uma das sete maravilhas do RN, chegamos à vila de Bulhões, bem no fundo do açude. Caminhando na lama preta fomos conhecer o povoado, apesar do receio de Angelina em deixar o barco sem custodia. A vila de Bulhões é constituída de mais ou menos umas vinte casas de pescadores, um mercadinho e dois botequins, um com uma mesa de sinuca. Na casa de uma amiga de Angelina fomos presenteados com muitas mangas, seja da espada que da rosa. Muitos pescadores foram perguntar-nos se o barco a motor fosse nosso, pois estavam preocupados com uma fiscalização do Ibama; tranqüilizados fizeram largos sorrisos.
Na volta passamos perto da “prainha” para comer alguma coisa num barzinho na beira, mas estavam fechados os dois. Nos rochedos que ficam no meio do açude avistamos um montão de garças brancas. Passamos bem perto do marco da profundidade do açude e voltamos para o porto de partida, onde atracamos por volta das 5:00h da tarde. Quando perguntei para Marina Luna se gostou do passeio, ela foi lapidária: “Foi uma aventura e tanto! Gostei muito!”.
Tomamos aquele banho perfumado e relaxante na nossa banheira e depois fomos dar uma caminhada até a vila, só pra esticar as pernas.
Na volta preparei a arrumação noturna na palhoça [rede para Marina Luna e notebook conectado para mim], deixei Malu brincando um pouco com o “jogo do cachorrinho” e fui preparar nosso jantar: espaguete ao molho gostosinho.
Marina Luna jantou, tomou o leitinho e dormiu numa seqüência muito rápida.
Por volta da meia-noite fiz a mudança e nos retiramos no nosso quarto; Marina Luna fica no meio da cama de casal enquanto eu prefiro dormir [e ler um pouco antes] na rede.
Terça feira acordamos com a idéia de mover-nos e ir pra outro canto: como os dias são contados decidimos ir diretamente para a fazenda de Zé Domingos. De manhã fui com Christian para Acari à caça do mapa do açude, sobre o qual estudar os itinerários de trilhas e remadas. Não conseguimos na prefeitura nem no DNOCS. Descendo do buggy bati na armação do pára-brisa e quebrei meus óculos. No mercadinho comprei fruta, biscoitos e iogurtes para os lanches e os ingredientes para preparar uma macarronada de despedida na pousada.
Depois do almoço deixei Marina Luna brincando com Samuel por baixo da palhoça e fui arrumar as malas. Cinco minutos depois chegou minha filhota correndo e gritando: “papai, caiu meu dente!”. Abracei a pequena, perguntei se tinha se machucado e, quando respondeu que não, a tranqüilizei: “não se preocupe que vai nascer um dente novo no lugar desse que caiu”. Fomos no lugar do acidente e achei o dentinho num canto. Guardei-o numa garrafinha com água e sal, pois a mãe de Samuel disse que talvez um dentista pudesse colocá-lo de volta. Nos despedimos de Angelina e Christian e de moto-taxi fomos pra Acari. Na praça principal perguntei sobre ônibus ou lotações na direção certa, mas como já sabia não existe transporte público entre o seridó potiguar e o paraibano. Pechinchando por um quarto de hora consegui um preçinho camarada para ir até o Riacho da Serra de táxi e assim fomos. Marina Luna comeu uva escutando musica no player digital que ganhou de Tito Rosemberg e depois cochilou uma meia-hora. Chegamos na fazenda de Zé Domingos antes do anoitecer, quase na hora do jantar. Fomos destinados ao quarto da frente, que atualmente de dia serve como sala de jogo para o “buraco” de Zé Domingos. À noite tentei avisar Sobelysse da nossa chegada no sitio, mas não consegui comunicar-me com ela.