sábado, 30 de janeiro de 2010

Saga potiguar

"O dia das moscas" de Nei Leandro de Castro, um breve Cem anos de solidão em solo potiguar, é um romance que se lê em poucas horas, pois é impossível parar a leitura sem uma razão importante.
Com um estilo conciso e divertido o autor nos conta a história e os maus costumes de uma grande familia potiguar, que nasceu do casual encontro de uma india com um português à beira do rio Potengi.
Um livro importante para entender melhor, ainda mais divertindo-se o tempo inteiro, a natureza do povo potiguar contemporaneo, herdeiro da grande mistura de culturas, tradições e costumes derivados dos tantos encontros parecidos ao de Hosana e Cançado deste livro.
Para quem ainda não leu este romance de 1983, é possível encontrar "O dia das moscas" de Nei Leandro de Castro seja no Book Shop Pipa que na biblioteca da EducaPipa.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Velocidade de remada

Jorge Bernardino: Alguém do grupo poderia me dizer qual é a velocidade média que se atinge numa canoa com um único remador em águas paradas?

Jack: Olá, Jorge Bernardino
gosto bastante de remar sozinho e carrego muito bem a canoa durante minhas expedições para ter uma embarcação estável e equilibrada.
Em água parada sem vento faço cinco quilometros em uma hora e quinze minutos, sem forçar o ritmo e tendo que corrigir frequentemente a direção, mudando o lado do remo.
Em água parada com um vento leve ou medio, opondo a proa ao vento e não precisando mudar o lado do remo, faço os mesmo cinco quilometros em menos de uma hora.
Com um vento forte a água não fica parada. Se o vento for contra, geralmente paro e espero o vento baixar. Se o vento for a favor, a velocidade e a aventura aumentam na mesma medida.
Remontando o largo e lento rio Piranhas e seus afluentes, durante minhas expedições solitárias, geralmente remo diariamente em média max. uns 20 km, mas eu sou um canoista contemplativo... à velocidade prefiro o panorama! eheheh...

Extraido do fórum da comunidade Canoa Canadense Brasil no Orkut

domingo, 24 de janeiro de 2010

Picnic e pesca no rio Piranhas

19 jan. 2010 - Minha filha Marina Luna, entusiasta para testar suas novas varas de pesca, me acordou às 5:30h da manhã. Quando abri a porta da frente e vi que o dia estava perfeito para uma remada, comecei logo a arrumar toda a tralha. Para uma excursão de apenas um dia carrego tanta coisa que nem por uma expedição de uma semana. É que tem muitos objetos que podem ser úteis ou necessários em ambos os casos.
Na caixa de isopor coloquei bastante água gelada e frutas, batatas, tomates, arroz e um pedaço de carne-de-sol para nosso picnic.
Ainda cortei cerca de um metro de uma das varas de pesca para ser mais fácil o manuseio dela por parte de Marina Luna.
Às 7:30h zarpamos do Sítio Araras depois ter arrumado umas poucas piabas com Zé Preto, para usa-las como iscas na pescaria.
Desta vez Marina Luna concentrou-se na pesca e não remou. Coloquei portanto toda a carga à proa, para equilibrar os pesos, e deixei para a jovem pescadora todo o centro da canoa.
Fomos assim tranquilamente até a pequena baia aos pés da Itatinga, distante apenas 5 km. da nossa casa.
Logo que chegamos Marina Luna começou a pescar, usando a vara menor e pedacinhos de mortadela de frango cono isca.
Depois umas primeiras tentativas infrutuosas, fomos do outro lado da baia, até umas grandes pedras lisas e escuras, onde um pequeno tucunaré mordeu a isca e foi fisgado pelo anzol. O tempo de tirar umas fotos e logo Marina Luna, verdadeira amante da Natureza, decidiu soltar o peixe de volta no rio.
Alguns dias depois, comparando o tamanho do peixe que tinha pegado com os pescados por uma jovem nativa do Sítio Araras, bem menores que o tucunaré dela, entendeu que o peixe pequeno não volta a ser livre quando a fome está grande... eheheh!
Após um tempo voltamos à canoa e acendemos atras de uma grande pedra negra um pequeno fogo; coloquei arroz e batatas para cozinhar.
Tomamos um bom banho e subimos no rochedo que se ergue solitário num lado da baia. Nessa hora faltou mesmo alguém para tirar umas fotos nossas em cima da pedra mais alta.
Quando o arroz ficou no ponto, botei a carne na grelha para assar e preparei uma salada de tomates, tomando um resto de café esquentado pelo calor solar.
Apartei num canto nosso lixo vegetal e logo uma cabra-gari apareceu para fazer a coleta seletiva.
Almoçamos na escassa sombra de uma jurema encostada no rochedo que marca a entrada na baia e depois voltamos a banhar-nos. Marina Luna vestiu o colete flutuador e fomos nadando preguiçosamente até o outro lado da baia. Quando voltamos à canoa, carregamos toda a tralha, fizemos um rapido lanche com frutas e biscoitos e começamos nossa viagem de volta à base, passando perto de todas as pedras e formações rochosas no meio do caminho na esperança de pescar aquele peixão. Mas o jovem tucunaré da manhã foi mesmo o único pescado.
Com o sol quente ainda batendo forte, paramos para tomar um outro banho refrescante. Voltei a remar, mas às 15:30h, entrando na baia principal do Sítio Araras, constatei que o vento norte, contrario à nossa direção, estava já soprando forte. Para não desgastar todas minhas forças remando contra o vento, decidi fazer uma pausa.
O vento norte sopra forte quase todos os dias depois das 3h da tarde; por volta do pôr-do-sol a calmaria sempre volta. Às vezes começa a soprar logo às 3h, outras principia mais tarde.
Tranquilizei Marina Luna, explicando-lhe que a pausa insperada era para garantir nossa máxima segurança e ela aproveitou disso para cochilar uma meia hora ou pouco mais.
Eu fiquei esperando o vento baixar pensando sobre os grandes misterios da existencia. Finalmente às 4:30h o vento parou. Acordei Marina Luna e voltamos à canoa. Logo que comecei a remar um vento suleste, carregando umas nuvens cinzas de chuva, mas favoravel à nossa direção, levantou-se atrás da gente. Em apenas meia hora chegamos em casa e assistimos ao pôr-do-sol descarregando toda a tralha da canoa.

Picnic na Itatinga

Excursão em canoa canadense no rio Piranhas/Açu do Sitio Araras até a Itatinga, a mais alta formação rochosa na margem direita do rio até as largas e maciças serras na região de São Rafael.
Pode ser considerada oficialmente a primeira "remada" de minha filha Marina Luna. Na canoa ela já tinha remado um pouquinho em outras ocasiões, mas dessa vez assumiu o papel de proeiro durante o dia inteiro, remando com vigor e técnica
Quando chegamos à baia abrigada aos pés da Itatinga, tomamos um bom e demorado banho de rio refrescante (sem documentos fotográficos) e só depois acendemos um pequeno fogo onde preparar o nosso almoço: espetos de carne-de-sol assada, arroz, batatas e tomates.
Depois do almoço, com muita boa vontade, escalamos a Itatinga até o topo, evitando as perigosas insidias no caminho, quer dizer, urtigas e espinhos.
De volta à canoa, remamos numa boa até a Base Araras, onde chegamos sem dificuldades por volta das 4 horas

Trilha sonora de Kevin McLeod.

domingo, 10 de janeiro de 2010

A noite que o bar Garagem pegou fogo

Na noite que o bar Garagem pegou fogo eu estava dormindo desde cedo. Vitima de alguma virose, passei o dia zonzo e fui deitar precocemente. Quando as chamas do incêndio devoraram as madeiras da barraca e todo o seu conteúdo, eu estava no mundo dos sonhos, mas nos dias seguintes escutei de muitas pessoas o relato do ocorrido, assim como vou resumir abaixo.
Por volta das 21:45h do dia 22 de dezembro de 2009 os funcionários do restaurante Lua Cheia perceberam um cheiro de queimado que os deixou preocupados. Em breve conseguiram identificar a proveniência do desagradável odor e a noticia que o bar Garagem estava pegando fogo correu de boca em boca e de um celular pro outro.
Cíntia do Book Shop ligou logo para Marcelo, um dos dois donos do bar. Marcelo correu pro praia, mas quando chegou lá as chamas tinham já tomado conta da barraca.
Galego (peixe-galo) ligou para Esteban, sócio de Marcelo, mas ele estava na Argentina, para passar o Natal em família, e soube da tragédia sem poder fazer nada.
Muitos curiosos chegaram pra ver. Outros se prontificaram para ajudar.
As mangueiras da pousada e do restaurante acima foram acionada, mas com escasso resultado. Quando o teto ruiu, as labaredas subiram pro céu e chamuscaram as folhas das arvores maia altas, em cima da falésia. Cíntia pediu para a dona da pousada Praiana liberar na rua todo o conteúdo da piscina e isso ajudou bastante, porque um rio de água desceu escada abaixo pra praia.
Uma corrente humana, com baldes e panelas, jogou incansavelmente água do mar na barraca em chamas. Outros encheram o balde diretamente na escada, quando desceu a água da piscina. Amigão quebrou uns tijolos da borda da escada para a água atingir a parte de trás da barraca. Quando as chamas chegaram às cadeiras e mesas de plástico empilhadas fora da barraca, o fogo se alastrou também no tablado.
Muitos foram os esforços, mas o fogo acabou destruindo tudo praticamente. Apenas a estrutura que sustenta o tablado foi salva pela constância dos presentes que não pararam até as chamas baixarem de vez.
Quando os bombeiros chegaram de Parnamirim, já de madrugada, nada mais tinha para fazer.
O Garagem Bar&Co. estava reduzido em cinzas fumegantes.
No dia seguinte, às 6h da manhã, alguém ligou pra mim e me deu a triste noticia. Ao começo achei fosse mentira, mas, na Rede, Silvana confirmou: “perdemos nosso Garagem, mas vamos construir um novo”!
Rapidamente terminei de tomar o café e fui andando pela praia até o local; no caminho não encontrei ninguém, porque estava muito cedo.
Quando cheguei no lugar fiquei atônito por um tempão. Tudo estava preto, queimado. Da barraca de madeira com um terraço coberto no primeiro andar, em cima do bar e da cozinha, não existia mais nada. Tudo tinha sido devorado pelo fogo.
Geraldinho, proprietário da barraca, borrifava com as mãos as brasas, que ainda ardiam nos escombros, com a água de um balde que o irmão Titico ia encher no mar.
Umas poucas linhas de madeira da estrutura da barraca, contudo queimadas, e a churrasqueira rachada estavam de pé. O resto era um monte de destroços fumegantes.
As pessoas foram chegando, mas eu mal percebi isso. Estava num estado de choque catatônico do qual sai só quando chegou Marcelo, um tempo depois.
Trocamos apenas poucas palavras e logo ele foi me contando o fato.
No rosto dele vi todas as marcas da tragédia e ao mesmo tempo a determinação de reagir ao drama com toda a força.
Perguntei pra Marcelo qual fosse o plano de ação e ele me disse que o primeiro passo seria jogar fora tudo para poder depois reconstruir.
Começamos assim a separar os restos do incêndio: a madeira carbonizada de um lado e todos os restos metálicos do outro. Quando a maré baixar a camioneta dos Calangos iria levar os escombros.
Outras pessoas foram chegando e ajudando. Pablo, o pintor, mal chegou e logo foi pisando num vidro, cortando-se o calcanhar. O corte profundo sangrou logo abundantemente. Moreno acompanhou Pablo até o posto de saúde, que porém estava fechado.
Quando o Galego chegou e viu a grande quantidade de ferro velho propôs de criar com tudo isso um pesqueiro fora da barra com o nome do Garagem. Geraldinho achou uma boa idéia e logo Galego arrumou uma catraia motorizada para levar os destroços metálicos no meio do mar. Em duas viagens todos os restos das freezer, do fogão e das geladeiras foram pro fundo do mar, amarrados entre eles.
Perto do meio-dia, com o sol batendo forte, vim pra casa buscar a pá, a enxada e a serra circular para as nossas operações. Sim, digo “nossas” operações por que, assim como alguns outros, decidi manifestar minha solidariedade de fato, agindo para ver a reconstrução acontecer rapidamente.
(continua...)