domingo, 10 de janeiro de 2010

A noite que o bar Garagem pegou fogo

Na noite que o bar Garagem pegou fogo eu estava dormindo desde cedo. Vitima de alguma virose, passei o dia zonzo e fui deitar precocemente. Quando as chamas do incêndio devoraram as madeiras da barraca e todo o seu conteúdo, eu estava no mundo dos sonhos, mas nos dias seguintes escutei de muitas pessoas o relato do ocorrido, assim como vou resumir abaixo.
Por volta das 21:45h do dia 22 de dezembro de 2009 os funcionários do restaurante Lua Cheia perceberam um cheiro de queimado que os deixou preocupados. Em breve conseguiram identificar a proveniência do desagradável odor e a noticia que o bar Garagem estava pegando fogo correu de boca em boca e de um celular pro outro.
Cíntia do Book Shop ligou logo para Marcelo, um dos dois donos do bar. Marcelo correu pro praia, mas quando chegou lá as chamas tinham já tomado conta da barraca.
Galego (peixe-galo) ligou para Esteban, sócio de Marcelo, mas ele estava na Argentina, para passar o Natal em família, e soube da tragédia sem poder fazer nada.
Muitos curiosos chegaram pra ver. Outros se prontificaram para ajudar.
As mangueiras da pousada e do restaurante acima foram acionada, mas com escasso resultado. Quando o teto ruiu, as labaredas subiram pro céu e chamuscaram as folhas das arvores maia altas, em cima da falésia. Cíntia pediu para a dona da pousada Praiana liberar na rua todo o conteúdo da piscina e isso ajudou bastante, porque um rio de água desceu escada abaixo pra praia.
Uma corrente humana, com baldes e panelas, jogou incansavelmente água do mar na barraca em chamas. Outros encheram o balde diretamente na escada, quando desceu a água da piscina. Amigão quebrou uns tijolos da borda da escada para a água atingir a parte de trás da barraca. Quando as chamas chegaram às cadeiras e mesas de plástico empilhadas fora da barraca, o fogo se alastrou também no tablado.
Muitos foram os esforços, mas o fogo acabou destruindo tudo praticamente. Apenas a estrutura que sustenta o tablado foi salva pela constância dos presentes que não pararam até as chamas baixarem de vez.
Quando os bombeiros chegaram de Parnamirim, já de madrugada, nada mais tinha para fazer.
O Garagem Bar&Co. estava reduzido em cinzas fumegantes.
No dia seguinte, às 6h da manhã, alguém ligou pra mim e me deu a triste noticia. Ao começo achei fosse mentira, mas, na Rede, Silvana confirmou: “perdemos nosso Garagem, mas vamos construir um novo”!
Rapidamente terminei de tomar o café e fui andando pela praia até o local; no caminho não encontrei ninguém, porque estava muito cedo.
Quando cheguei no lugar fiquei atônito por um tempão. Tudo estava preto, queimado. Da barraca de madeira com um terraço coberto no primeiro andar, em cima do bar e da cozinha, não existia mais nada. Tudo tinha sido devorado pelo fogo.
Geraldinho, proprietário da barraca, borrifava com as mãos as brasas, que ainda ardiam nos escombros, com a água de um balde que o irmão Titico ia encher no mar.
Umas poucas linhas de madeira da estrutura da barraca, contudo queimadas, e a churrasqueira rachada estavam de pé. O resto era um monte de destroços fumegantes.
As pessoas foram chegando, mas eu mal percebi isso. Estava num estado de choque catatônico do qual sai só quando chegou Marcelo, um tempo depois.
Trocamos apenas poucas palavras e logo ele foi me contando o fato.
No rosto dele vi todas as marcas da tragédia e ao mesmo tempo a determinação de reagir ao drama com toda a força.
Perguntei pra Marcelo qual fosse o plano de ação e ele me disse que o primeiro passo seria jogar fora tudo para poder depois reconstruir.
Começamos assim a separar os restos do incêndio: a madeira carbonizada de um lado e todos os restos metálicos do outro. Quando a maré baixar a camioneta dos Calangos iria levar os escombros.
Outras pessoas foram chegando e ajudando. Pablo, o pintor, mal chegou e logo foi pisando num vidro, cortando-se o calcanhar. O corte profundo sangrou logo abundantemente. Moreno acompanhou Pablo até o posto de saúde, que porém estava fechado.
Quando o Galego chegou e viu a grande quantidade de ferro velho propôs de criar com tudo isso um pesqueiro fora da barra com o nome do Garagem. Geraldinho achou uma boa idéia e logo Galego arrumou uma catraia motorizada para levar os destroços metálicos no meio do mar. Em duas viagens todos os restos das freezer, do fogão e das geladeiras foram pro fundo do mar, amarrados entre eles.
Perto do meio-dia, com o sol batendo forte, vim pra casa buscar a pá, a enxada e a serra circular para as nossas operações. Sim, digo “nossas” operações por que, assim como alguns outros, decidi manifestar minha solidariedade de fato, agindo para ver a reconstrução acontecer rapidamente.
(continua...)