Domingo à tarde teve festinha de aniversário do amiguinho Iuri no meu jardim. Assim como Enzo, meu outro jovem amigo de Pipa, ele adora comemorar aqui seu aniversário, porque a diversão é garantida!
A praia, as piscinas naturais, o morro para escalar... são campos de muitas brincadeiras e aventuras para meninos e meninas. Enfim, na hora do pôr-do-sol, todo mundo na varanda para os parabéns e o bolo!!!
É em ocasiões como essa que acabo trocando umas ideias com os pais das crianças convidadas, pessoas que geralmente apenas cumprimento na rua ou na porta da escola.
Pois nesse domingo aconteceu algo que me deixou quanto menos pensativo.
Três dos não muitos genitores presentes à alegre reunião fizeram pra mim o mesmo comentário sobre os próprios filhos: "Ele/ela é muito mal-educado/a; não sei por que!", ou com a variante "...não sei mais o que fazer!".
Já escutei essa afirmação sair da boca de outras pessoas em muitas ocasiões, mas nunca três vezes numa meia hora, em três diferentes bate-papos durante uma festinha.
Uma festinha de aniversário não é o lugar certo para encarar assuntos muito sérios, assim preferi apenas dar um sorriso para os três, meio encabulado.
Mas desde então venho matutando sobre este tema.
Afinal das contas me parece que a reflexão principal seja a seguinte: não devemos nos perguntar sobre nossos filhos "por que são mal-educados?", mas "são mal-educados por quem?".
E isso nos levaria logo a descubrir os responsaveis do problema, que somos nós mesmos.
São o pai e a mãe que devem ensinar desde cedo para a criança os conceitos básicos da sociedade civíl. Principalmente com a repetição do bom exemplo por parte do educador!
Quando pensamos que nossos filhos são mal-educados, devemos estar cientes que somos os maiores responsaveis disso.
Nessa Modernidade Liquida na qual estamos vivendo, os valores tradicionais perdem a própria solidez e deixam muitos desemparados, ao mesmo tempo que acompanham a criação de novos conceitos.
Vamos examinar a Familia, por exemplo. O velho estereotipo com um pai, uma mãe e um punhado de filhos representa só uma pequena porcentagem dos casos na atualidade. Uma familia mais moderna já é composta pela união de dois quase-coroas de aspecto ainda juvenil, que criam alguns filhos dos casamentos anteriores juntos a dois gatos, um cachorro e uma velha tia dele, que assiste TV o dia inteiro, mas participa com a aposentadoria das despesas da "familia".
Mas, efetivamente, são também uma família real um casal lesbo/gay bem sucedido, com um ganso africano na banheira e uma cabrita tibetana no jardim, cuidando do territorio; ou os tantos não sei quantos, que ficaram ali, de uma comunidade utopica na Serra da Mantiqueira. E assim por diante.
Minha família tem varios niveis.
Atualmente o núcleo é composto por mim, minha filha e um cachorrinho de 50 dias, Biriba, no nosso micro-cosmo quotidiano. Em orbitas diferentemente separadas e distantes têm duas ex-mulheres, um filho adolescente que toca guitarra eletrica, uma mãe, uma irmã... uma sobrinha... estas duas já a um ano-luz de distancia!!! E sei lá quem mais...
E assim, com toda a confusão que se cria, com sempre menos referências fundamentadas, a Educação também é mais um valor tradicional que acaba pagando as consequências da Modernidade Liquida.
Quem é responsavel da educação de seu filho, amigo?
A mãe? O padrasto? A professora? O Faustão e toda a tvglobo? A velha tia? A cabra tibetana? Todos? Ninguém?
Você mesmo!
Neste Terceiro Milénio globalizado e selvagem, não é fácil ensinar os valores importantes aos nossos filhos.
Enquanto todos os preceitos eticos adquirem significado e importancia diferentes dependendo da hora, da situação e da pessoa, qual é o bom exemplo para seguir que estamos transmitindo aos nossos filhos?
Não está facil.
Eu mesmo muitas vezes fico pensando, preocupado: por que minha filha deveria acreditar em mim?
Não sei.
...
Putz, amigo!
Desligue a TV hoje à noite na sua casa e leia uma história para a sua criança. E amanhã também...